sexta-feira, 19 de outubro de 2007

IX - La Loba

A Ressurreição da Mulher Selvagem – Um estudo sobre “La Loba”, a Mulher-Lobo
Antes de começar a narrativa, vou dar algumas dicas que podem servir como “chaves” para a compreensão das histórias. Provavelmente, com essas informações, sua mente já começará a se abrir para captar o que nelas a reporta à sua mulher selvagem. Porque essa condição – a de estar aberta para receber o conhecimento, de estar receptiva, de sentir-se dentro da história e não como simples observadora é condição essencial para o bom resultado desse trabalho. Vou me dar o direito de contar as minhas próprias histórias e experiências, pra ilustrar mais ainda as situações. Leia as histórias com sua alma, pois elas são as “escavações ‘psíquico-arqueológicas’ nas ruínas do seu mundo subterrâneo”. Elas podem restaurar sua vitalidade perdida. Elas podem te trazer uma vida muito mais plena e feliz.

Clarissa compara a mulher moderna a um “borrão de atividade”, que sofre pressões para ser tudo para todos, e não consegue mais manifestar a velha sabedoria.
Você sofre essas pressões? Você se sente cobrada, você assume responsabilidades que na verdade não são suas, você acumula funções, você passa o dia inteiro trabalhando e no final, sente que não realizou nada? E então, perante algum problema, perante a necessidade de tomar uma atitude, de fazer uma escolha, de aconselhar a si mesma, você simplesmente fica sem ação? E, em nome de quê você enveredou por esse caminho? Comece a se perguntar.

Ao longo da História, os que não compreendem as mulheres agem como verdadeiros predadores da sua alma, perseguindo, acossando, acusando-as de serem trapaceiras e vorazes, excessivamente agressivas e de terem menos valor que eles. Para se proteger de seus predadores, há muito, muito tempo, mulheres passam a vida disfarçadas. Quando você se disfarça por muito tempo, começa a esquecer do que você realmente é.

Vou listar abaixo as características psíquicas que Clarissa considera comuns em lobos e mulheres saudáveis (nossas características selvagens), para que, identificando-as, você comece o trabalho de se desfazer de seus disfarces:

- percepção aguçada;
- espírito brincalhão;
- elevada capacidade para a devoção;
- natureza gregária (gostam de companhia, são sociáveis);
- curiosidade;
- grande resistência e força;
- intuição;
- têm grande preocupação com seus filhos, seu parceiro e sua família;
- têm experiência em adaptar-se a circunstâncias em constante mutação;
- determinação feroz e extrema coragem.

Seria interessante que você se perguntasse, nesse momento, e daqui pra frente, quais dessas características você reconhece em você. O quanto algumas estão fortes e claras, e o quanto outras simplesmente parecem ter desaparecido, tão distantes estão. A partir de que momento algumas se afastaram, e porquê. Claro que você não vai ter todas as respostas imediatamente, mas perguntar-se é um começo. Essa questão vai aflorar em algumas situações e, enquanto lê as histórias você vai perceber, vai questionar, vai “desencavar”, bem lá no fundo do seu ser.

Durante todo o livro Clarissa fala, inúmeras vezes, sobre a “descida”. Todas as vezes que você ler isso, saiba que estamos falando da descida ao mundo subterrâneo feminino, ou do seu aprofundamento em sua alma.

Outra expressão que ela vai usar muito, referindo-se ao seu encontro com sua alma, é a expressão "voltar para casa". Quando você "volta para casa" está em contato direto com sua alma.

A autora diz que há algumas situações que normalmente são “iluminadoras”, fazendo-nos sentir a presença da mulher selvagem, o que provoca em nós uma vontade louca de senti-la mais e mais. Vou transcrevê-las aqui:

- a gravidez;
- a amamentação;
- perante o milagre das mudanças que surgem quando se educa um filho;
- quando vivemos um relacionamento amoroso;
- através da visão de algo que nos desperta os instintos;
- através dos sons mais variados – uma música, o som de um tambor, um assobio, um grito;
- através das palavras – um verso, um poema, uma frase perfeita.

Simplesmente lendo a lista acima fui reportada aos melhores momentos da minha vida. A simples lembrança dos períodos em que amamentei já me traz felicidade. Sempre que reflito a respeito disso chego à conclusão de que essa sensação de plenitude vinha, além da própria maternidade, pelo fato de que me sentia absolutamente necessária para meus filhos, então deixava de me atormentar com questões menores, deixava de querer ser melhor do que eu era e permitia que o amor fluísse, na sua forma mais pura, dedicando-me de todo coração. Eram momentos em que estava em puro estado selvagem. Daí a paz interior. Daí a felicidade.

A música é outra coisa que me coloca em contato direto com minha alma. Seu poder é tão natural e maravilhoso, que sei que posso usá-la como recurso real quando quero sair de um estado de tristeza, ou entrar num estado de romantismo, ou quando quero me sentir mais forte. Desanimada, coloco o CD infantil da Adriana Calcanhoto e instantaneamente, aos primeiros acordes, já saio cantando, pulando e rodopiando, a ponto de provocar riso em quem me vê. Esqueço de tudo, alma pura. Quando estou muito cética escuto John Mayer e sou capaz de sentir o romantismo se apossando de mim, uma docilidade agradável, uma disposição instantânea para a paixão. Se me sinto fraca, apelo pra Cássia Eller e na terceira música já estou forte, cantando tão rebelde quanto ela. Sei que a música é ligação direta para minha alma.

Há uma experiência sonora interessante, que não tem a ver com música, que foi bem viva pra mim. Sou a última de seis irmãos. Quando nasci, minha irmã mais nova já tinha cinco anos. Ao chegar aos oito, eu era a única criança da casa. Para mim, meus irmãos eram todos adultos. Eu sentia um grande distanciamento deles, o que me dava uma certa sensação de solidão. Hoje percebo que naquela época provavelmente eu já começara a me “disfarçar”, para não desagradar demais minha família de adultos. A grande sorte que tive foi que nunca me incomodei muito em desagradar, talvez por já ter uma alma bem presente, o que me deu fama de rebelde.
Durante um bom período da minha infância e adolescência, sempre que as férias chegavam minha melhor amiga me convidava para passá-las em seu apartamento, em Santos. Era uma verdadeira farra! Estava com alguém da minha idade, num lugar agradável, íamos à praia, dormíamos tarde, falávamos muito e comíamos as maravilhosas iguarias que sua cozinheira nos fazia! Verdadeira receita de felicidade! Eram momentos muito bons, nos quais eu não me importava com nada, a não ser em me divertir como bem entendesse, e ser eu mesma.
Vez ou outra, quando estávamos na sala, jogando cartas ou assistindo TV, escutávamos uma voz ao longe gritando: “Olha o pão de cará! Pão de cará fresquinho...” Pulávamos de onde estivéssemos e íamos em busca de dinheiro para comprar o maravilhoso pãozinho! Quando subíamos, a cozinheira de minha amiga, uma negra que me fazia viver o sonho de estar no Sítio do Pica-pau Amarelo com Tia Anastácia, já colocara a mesa, já fizera o café e já fervera o leite. Passávamos a manteiga nos pães e os comíamos, alegres, e o prazer do paladar misturava-se ao prazer de estarmos juntas, de férias e despreocupadas, numa sensação que, na época, talvez eu não imaginasse que seria inesquecível.
A vida nos levou pra rumos diferentes, nunca mais vi minha “melhor amiga”, mas aquela sensação ficou guardada em algum compartimento da minha alma, para que nalgum dia, alguma “chave” o abrisse e a libertasse.
Poucos anos atrás, eu já com mais de quarenta anos, estava numa viagem de férias numa praia do Litoral Norte de São Paulo, com toda a minha família, e me balançava levemente numa rede, num fim de tarde, quando escuto ao longe: “Olha o pão de cará! Pão de cará fresquinho...” Aquilo foi como um retorno à minha infância, e veio com tanta força, que pulei da rede e saí correndo em busca de dinheiro para alcançar o vendedor antes que fosse embora! Coei café, fervi leite, pus a mesa, e comi aquele pãozinho de cará sentindo a mesma alegria em minha alma que sentia nas minhas férias em Santos! O vendedor de pães passava todas as tardes, e todas as tardes, até voltarmos pra São Paulo, eu comprei pães de cará e os comi como se estivesse resgatando um pedaço alegre da minha natureza. E aquela sensação específica de alegria aflorava no momento em que eu ouvia, longe, o chamado do vendedor. Voltei pra casa mais gorda, é claro! Foi a percepção mais forte que tive do poder de nossa memória auditiva, e de como um simples som pode abrir uma porta para a alma. E foi fantástico!

E as palavras... Quantas vezes, lendo um livro, senti que uma forma de dizer, que uma frase certeira, haviam me atingido em cheio, desvendando tudo o que existia dentro de mim... E quantas vezes, sentindo-me longe, sem ao menos saber exatamente o que desejava, peguei um papel e uma caneta e deixei as palavras saírem, à toa, sem planejamento, sem pretensão, sem objetivo, apenas com a certeza de que aquilo me traria de volta. E trazia. Umas poucas palavras, às vezes alguma rima, muito sentimento, e lá estava eu de novo! E que alegria vinha junto! Que sensação de plenitude!

Sei, agora, que quando ouço meus CDs, quando danço e canto, quando côo meu sagrado café da tarde, quando leio, quando escrevo, quando crio, estou correndo atrás da minha mulher selvagem. Através dessas atividades, encontro-me com ela e a vivencio prazerosamente. É muito, muito bom!

Essa inspiração fugaz que se apossa de nós nesses momentos, e que nos faz perceber que ainda estamos vivas é a motivação para que “viremos a mesa”, porque não vamos mais prosseguir sem ela. Essa mulher intuitiva, esse oráculo, essa inspiradora, essa criadora, vai passar a sustentar a nossa vida, que será mais natural, mais vibrante.

Eu gostaria agora que você pensasse a esse respeito, e tentasse encontrar em sua memória suas próprias experiências, suas próprias histórias.

Um alerta: você deve estar preparada para o seguinte: no início da restauração do seu relacionamento com a mulher selvagem ela pode se dissolver em fumaça a qualquer instante. Se lhe damos um nome estamos criando um espaço de pensamento e sentimento para ela dentro de nós. Ela virá, e se a valorizarmos, permanecerá. Espero sinceramente, que você a chame, que a nomeie (pode ser “mulher selvagem” mesmo, ou qualquer outro nome que queira lhe dar, mas que você saiba que é ela), que tenha um pouco de paciência para esperar que ela se manifeste, que a receba bem, e que permita que fique.

Conhecer a mulher selvagem é um processo permanente, que deve durar a vida inteira. As histórias que a autora escolheu para “Mulheres que correm com os lobos” abrirão a porta para esse conhecimento, mas essa não é a única porta. Não devemos nos contentar somente com essas histórias. É por esse motivo que peço a você que enriqueça ainda mais o conteúdo desse blog contando-nos as suas. Pequenas histórias que você ouviu em qualquer fase da sua vida e que vibraram no fundo da sua alma podem nos ajudar muito. Histórias pessoais de enfrentamento de problemas, de superação de dificuldades, de crescimento, de auto-conhecimento, de aproximação com a própria alma, e o que mais lhe vier à mente. Cada uma será um pequeno ossinho do seu esqueleto já tão fragmentado, e você poderá colocá-lo de volta em seu lugar. Se você se libertar de qualquer amarra e as relatar aqui nesse espaço, que foi feito pra isso, será maravilhoso para todas nós!

Agora, finalmente, vamos à história!

La Loba

Existe uma velha que vive num lugar oculto de que todos sabem, mas que poucos já viram. Como nos contos-de-fadas da Europa oriental, ela parece esperar que cheguem até ali pessoas que se perderam, que estão vagueando ou à procura de algo.
Ela é circunspecta, quase sempre cabeluda e invariavelmente gorda, e demonstra especialmente querer evitar a maioria das pessoas. Ela sabe crocitar e cacarejar, apresentando geralmente mais sons animais do que humanos.
Dizem que ela vive entre os declives de granito decomposto no território dos índios tarahumara. Dizem que está enterrada na periferia de Phoenix perto de um poço. Dizem que foi vista viajando para o sul, para o monte Alban, num carro incendiado com a janela traseira arrancada. Dizem que fica parada na estrada perto de El Paso, que pega carona aleatoriamente com caminhoneiros até Morelia, México, ou que foi vista indo para a feira acima de Oaxaca, com galhos de lenha de estranhos formatos nas costas. Ela é conhecida por muitos nomes: La Huesera, a Mulher dos Ossos; La Trapera, a Trapeira; e La Loba, a Mulher-Lobo.
O único trabalho de La Loba é o de recolher ossos. Sabe-se que ela recolhe e conserva especialmente o que corre o risco de se perder para o mundo. Sua caverna é cheia de ossos de todos os tipos de criaturas do deserto: o veado, a cascavel, o corvo. Dizem, porém, que sua especialidade reside nos lobos.
Ela se arrasta sorrateira e esquadrinha as montañas e os arroyos, leitos secos de rios, à procura de ossos de lobos e, quando consegue reunir um esqueleto inteiro, quando o último osso está no lugar e a bela escultura branca da criatura está disposta à sua frente, ela senta junto ao fogo e pensa na canção que irá cantar. Quando se decide, ela se levanta e aproxima-se da criatura, ergue seus braços sobre o esqueleto e começa a cantar. É aí que os ossos das costelas e das pernas do lobo começam a se forrar de carne, e que a criatura começa a se cobrir de pêlos. La Loba canta um pouco mais, e uma proporção maior da criatura ganha vida. Seu rabo forma uma curva para cima, forte e desgrenhado.
La Loba canta mais e a criatura-lobo começa a respirar.
E La Loba ainda canta, com tanta intensidade que o chão do deserto estremece, e enquanto canta, o lobo abre os olhos, dá um salto e sai correndo pelo desfiladeiro.
Em algum ponto da corrida, quer pela velocidade, por atravessar um rio respingando água, quer pela incidência de um raio de sol ou de luar sobre seu flanco, o lobo de repente é transformado numa mulher que ri e corre livre na direção do horizonte.
Por isso, diz-se que, se você estiver perambulando pelo deserto, por volta do pôr-do-sol, e quem sabe esteja um pouco perdido, cansado, sem dúvida você tem sorte, porque La Loba pode simpatizar com você e lhe ensinar algo – algo da alma.


Algumas elucidações que Clarissa nos fornece, para a compreensão da história:

- La Loba indica o que devemos procurar – os ossos, que representam a indestrutível força da vida.

- A ressurreição da Mulher Selvagem se dá quando La Loba canta sobre os ossos que reuniu. “Cantar” significa usar a voz da alma, soprar alma sobre aquilo que está doente ou precisando de restauração.

- Reencontrar-nos com nossa própria alma é um mergulho profundo em nosso amor e em nossos sentimentos, e é um trabalho solitário, realizado no deserto da psique (alma).

- La Loba, a velha, Aquela Que Sabe, está dentro de nós.

- A casa de La Loba é o lugar onde o espírito das mulheres e o dos lobos se encontram, onde a mente e os instintos se misturam, onde a vida profunda da mulher embasa sua vida rotineira, onde as mulheres correm com os lobos.

- Deve-se ter alguma preparação antes de mergulhar nesse espaço psíquico tão rico, para que ele não se transforme numa armadilha de êxtase , de onde não se queira mais voltar, por ser muitíssimo agradável, mas seja como um mergulho numa água revitalizante.

- Toda mulher pode chegar lá. Os caminhos são os mais variados: a meditação profunda, a dança, a arte de escrever, de pintar, de rezar, de cantar, de tamborilar, de imaginar, o caminho das artes, e também através da solidão intencional.

A seguir, vou transcrever mais uma história, “Os Quatro Rabinos”, que ilustra bem o cuidado com que se deve penetrar nesse estado psíquico:


Os Quatro Rabinos

Uma noite quatro rabinos receberam a visita de um anjo que os acordou e os levou para a Sétima Abóbada do Sétimo Céu. Ali eles contemplaram a sagrada Roda de Ezequiel.
Em algum ponto da descida do Paraíso, para a Terra, um rabino, depois de ver tanto esplendor, enlouqueceu e passou a perambular espumando de raiva até o final dos seus dias. O segundo rabino teve uma atitude extremamente cínica. “Ah, eu só sonhei com a Roda de Ezequiel, só isso. Nada aconteceu de verdade.” O terceiro rabino falava incessantemente no que havia visto, demonstrando sua total obsessão. Ele pregava e não parava de falar no projeto da Roda e no que tudo aquilo significava... e dessa forma ele se perdeu e traiu sua fé. O quarto rabino, que era poeta, pegou um papel e uma flauta, sentou-se junto à janela e começou a compor uma canção atrás da outra elogiando a pomba do anoitecer, sua filha no berço e todas as estrelas do céu. E daí em diante ele passou a viver melhor.


Para mim, a história acima sugere que, quando entramos em contato com nossa essência, com o Divino”, e nos sentimos preenchidos com uma sensação de amplitude e grandeza, o melhor a fazer é criar.

Clarissa faz uma comparação entre muitas mulheres que conheceu e o deserto. Ela diz que o deserto tem uma vida ínfima na superfície, mas imensa por baixo, e que a vida de muitas mulheres também é assim. Diz que muitas mulheres que analisou chegavam em seu consultório queixando-se de não se sentir mal, mas também não se sentir bem. E diz que faltava, em suas raízes, esterco. E sugere como cura La Loba. Porque é ela que cuida do que já morreu e do que está morrendo nas mulheres.

Acredito que nossa tarefa seja ir fundo em nossas recordações, buscar o que, em alguma época da nossa vida, nos satisfazia plenamente, o que nos deixava felizes, o que nos preenchia a ponto de parecer que não precisávamos de mais nada na vida, analisar em que momento perdemos isso, deixamos de fazer, deixamos de sentir, abrimos mão por algum motivo banal, por falta de tempo, por sermos tiranizadas pela sociedade, ou por não priorizarmos nosso próprio prazer. Ou sabe-se lá que outros motivos todas possamos ter. Mas nossa obrigação é adubar essas recordações, fazê-las renascerem, pouco-a-pouco deixá-las florescerem, e embelezar o mundo que nos rodeia com elas.
Sempre tive dentro de mim que o ato de criar é divino. Analise se aquilo que você vem criando vem da sua alma. Se você o faz porque quer do fundo do seu coração ou se está apenas cumprindo tarefas automaticamente, mal prestando atenção. Busque dentro de você aquilo que, quando realiza, se sente em paz com a vida. Claro que não podemos imaginar que faremos o que amamos (lembre dos rabinos), mas quando nos damos chance de fazer o que amamos, ficamos melhor em tudo, e até nossas obrigações rotineiras acabam sendo mais prazerosas.
Sugiro que você releia “La Loba” e encontre suas próprias interpretações. Eu, de minha parte, expus, resumidamente, as diretrizes que Clarissa nos dá e tentei chegar à minha própria interpretação. Mas você não deve se contentar com ela. Não me cansarei de dizer que vale a pena ler o livro na íntegra, pois é riquíssimo! Cada frase cala fundo dentro de nós. É só clicar no link, na primeira página do blog, bem abaixo do arquivo do blog. E ler o livro também não significa deixar de participar desse workshop virtual. Ao contrário: você terá mais elementos para pensar, discutir, para lembrar de suas próprias histórias e nos contar. Conto com você!
Pra finalizar, como não poderia deixar de ser, vou transcrever aqui a última frase do capítulo que estamos estudando, exatamente como Clarissa coloca:

“Está querendo ajuda psicanalítica?
Vá recolher ossos.”

Beijão!

Ana Lucia

5 comentários:

Anônimo disse...

Oi Analú, que pena que ainda ninguem comentou este texto , entõ eu serei a primeira. Vamos lá!
Eu li a primeira parte, a sua introduçao para o La Loba, parei para ir tomar banho e não conseguia mais sair de lá pensando na minha infância, nos meus pães de cará que você não comeu, porque ainda naõ havia nascido.Sabe, a nossa vida não foram só almoços de domingo com irmãos de cara amarrada e pai de cabeça baixa. Eu me lembro como se fosse hoje das nossas viisitas, às sextas feiras,à casa da tia Cecília para ver o vovô (ele moráva lá). Eu adorava esse passeio, adorava a casa da titia, lá tinha nos fundos um quintal enorme (imagino !) com muitas árvores e até um saguí que morava lá.Dia desses soube que o Quinho recentemente desenhou essa casa exatamente como ela era, suponho que ele também tenha boas lembranças de lá. Você não imagina o respeito que nosso pai tinha pelo nosso avô! Nós nos sent´vmos ao redor dele e ele contava histórias,que nem sempre eram verdadeiras e divertia a todos nós.Pra ele era feita, todos os anos,a festa de São João(ele se chamava Rafael), com fogueira, balão, muitos fogos e muita alegria.Eu tenho cicatrizes de queimduras de fogos nos dois pés,e me lembro como se fosse hoje, que eu pulei a fogueira, caí, ralei meu joelho e rasguei a minha roupa nova . E quando ele ganhava nos cavalos então... um dia ele jogou dinheiro para todos os lados, pra quem quisesse pegar...E o homem do sonho, ah! que delicia! Eu sinto o cheiro daquele sonho.E as festas, então,nós adorávmos a tia Hilda, tão animada que ela era, voce não lembra? E as nossas viagens? Foram poucas, mas que bagunça, éramos tantos em tão pequenos espaços!Mas tudo acaba né? e acabou junto com o dinheiro, então vieram s bocas caladas e os rostos tensos, e todos nós muito cedo tivemos que ir à luta para sobrevivermos,cada qual por si próprio d maneira que deu, e deu no que deu. Quase todos infelizes ou frustrados.Os sonhos foram perdidos na medida em que a urgência de ganhar dinheiro se fez presente.Não dava para ser o que se queria, mas sim o que dava para ser. E assim veio a vida adulta e o casamento, e se alguém achou que alguma coisa iria mudar, que ilusão!Mas aí eu vou entrar no La Loba, e não vai ser hoje, fica pra amanhã. Boa Noite e um beijo
Ive

Ana Lucia Sorrentino disse...

Oi, Ivê! Você não imagina a alegria que me deu! Eu abri meu e-mail, quase às duas da manhã, imaginando que não ia encontrar nada, e encontrei o seu comentário, que me fez ficar feliz! Não só pelo fato de você ter comentado, mas porque o meu texto já serviu pra uma grande coisa! Despertei lembranças agradáveis em você, e o objetivo era esse mesmo! Que gostoso!
Agora, você pode "fermentar" essas lembranças! Lembre, lembre mesmo, reviva dentro de você as emoções que tinha, e qual era o motivo da sua felicidade naquela época. Pelo que sei de você, você era bem moleca quando pequena, não era? Imagino que fosse mesmo, porque nasceu numa casa que já tinha três homenzinhos... Pelo que você falou, você chegou à conclusão de que a alegria se foi com a falta de dinheiro, mas... Pense bem. Me pareceu que quem trazia muita alegria à família era o vovô, e provavelmente não só porque ele tinha dinheiro, e podia agregar todos ao seu redor, mas porque tinha amor, e era carismático, alegre! E contava histórias...E a tia Hilda também, eu lembro bem das loucuras dela! Só que os dois se foram... e talvez uma parte da alegria da família tenha ido junto.
Mas... desde que me lembro de você, você já era uma moça, e eu não lembro de ter presenciado esse seu lado "moleque". Será que você não acreditou que, por estar crescendo, não podia mais ser assim? Você não resolveu se comportar de uma forma mais "adequada" a uma adulta? Eu não sei, estou perguntando, essa resposta você é que vai ter que descobrir. Por que você acha que quando era pequena as viagens para lugares apertados eram felizes e, à medida que cresceu, viagens simples já não satisfaziam? Faltava o quê nas pessoas, ou em você? Amor? Carinho? Alegria? Simplicidade?
E se o Quinho foi desencavar de sua memória aquela casa, e fez questão de desenhá-la, será que não foi pra tentar tirar de lá do fundo da alma dele a alegria que sentia naquela época? Tenho certeza que sim! Na aridez do deserto de alegria dele, ele foi buscar essa alegria nas raízes, no subterrâneo, de forma intuitiva! Percebe?
O que percebo também, pelo que você já falou, é que quando éramos muito mais simples, éramos muito mais felizes. Por que uma festa junina, hoje, nem passa pela sua cabeça? Você pode dizer que é por causa do espaço... mas, será?
Será que crescemos, ficamos mais pobres e mais esnobes? É pra se pensar...
Agora, por que você não faz alguma experiência prática, como, por exemplo, fazer o sonho em casa? Curtir a idéia, se dedicar de corpo e alma à tarefa de fazê-los, sentir o cheiro delicioso... talvez envolver a Lívia na tarefa, e, quem sabe, depois, irmos todos à Anita pra comê-los? É só uma sugestão... mas eu adoraria! hummmmm...
E, por fim, quero comentar uma última coisa: você fala com admiração do vovô contando histórias, era uma coisa que te encantava. Você cresceu, e sei que você gosta muito de ler. E, outro dia, na casa da mamãe, você contou uma história, a do caçador de pipas, se não me engano... e você não imagina como eu gostei de te escutar contando aquela história, e, mais ainda, de perceber que você estava gostando de contar! Pode parecer uma bobagem, mas é nesse tipo de situação, onde a gente capta que se criou uma "energia" agradável em torno de algo que estamos fazendo, que acredito que devamos procurar a nossa essência, aquilo de que mais gostamos, ou aquilo que nos "preencheria" se nos dedicássemos, e não renegássemos. Será que você daria uma ótima "contadora de histórias"?
É isso aí... acho que o desenho do Quinho e as suas lembranças são verdadeiras "escavações psíquico-arqueológicas" em seus mundos subterrâneos. Bom começo! Parabéns!

Beijo! E volte logo!

Analú

Unknown disse...

Hoje cantei pros meus ossos. Há alguns dias com desejo de comer frango xadrez (comida que minhas filhas não apreciam), hoje fui para a cozinha (coisa que infelizmente não tenho como fazer diariamente, uma vez que trabalho fora o dia todo), preparei de um novo jeito o "meu" frango xadrez e enquanto degustava, me dava conta de como é bom fazer o que nos dá prazer (no caso, cozinhar) e como é bom mantermos nosso espaço (no caso, fazendo uma coisa pra mim mesma. Beijos.

Ana Lucia Sorrentino disse...

Zulma: É isso mesmo! Tenho certeza de que amanhã, quando estiver trabalhando, estará mais inteira e feliz por ter cantado sobre seus ossos hoje!
Beijão! E volte sempre!
Analú

Elayne disse...

Olá! A procura de pistas para encontrar e recolher meus ossos, encontrei esse local!
Eita, que prazer sentir a conexão advinda da certeza de outros seres na mesma sintonia. Sem sombra de dúvida a busca fica menos árdua e mais otimista.
Obrigada pela confirmação e espero que possamos de hoje em diante trocar,doar e nos ajudar nesse eterno reencontro de almas.
Um grande abraço!
Elayne Hungria - uma mulher que sonha em correr com os lobos.
elaynehungria@hotmail.com