sábado, 3 de julho de 2010

A "Trivialização da Violência", ou "O Aprendizado da Impotência"




Em Mulheres que Correm com os Lobos, Clarissa Pinkola Estés conta:

"No início da década de 1960, alguns cientistas realizaram experiências com animais para tentar determinar algo a respeito do "instinto de fuga" nos seres humanos.

Numa das experiências, eles fizeram uma instalação elétrica na metade direita de uma grande jaula, de modo que um cão preso nela recebesse um choque cada vez que pisasse no lado direito. O cão aprendeu rapidamente a permanecer no lado esquerdo da jaula.

Em seguida, o lado esquerdo da jaula recebeu o mesmo tipo de instalação, que foi desligada no lado direito. O cão logo se reorientou, aprendendo a ficar no lado direito da jaula. Então, todo o piso da gaiola foi preparado para dar choques aleatórios, de tal modo que, onde quer que o cão estivesse parado ou deitado, ele acabaria levando um choque.

Ele, a princípio, aparentou estar confuso e depois entrou em pânico. Finalmente, o cão desistiu e se deitou, aceitando os choques à medida que surgissem, sem tentar fugir deles ou descobrir de onde viriam. No entanto, a experiência não estava encerrada. No próximo passo, a jaula foi aberta.

Os cientistas esperavam que o cão saísse dali correndo, mas ele não fugiu. Muito embora pudesse abandonar a jaula quando bem entendesse, ele ficou ali deitado recebendo os choques aleatórios.

A partir dessa experiência, os cientistas levantaram a hipótese de que, quando um animal é exposto à violência, ele apresentará a tendência a se adaptar a essa perturbação, de tal forma que, quando a violência pára ou ele tem acesso à liberdade, o instinto saudável de fugir é extremamente reduzido, e em vez de escapar, o animal fica paralisado.

Em termos da natureza selvagem das mulheres, é essa trivialização da violência, assim como o que os cientistas subsequentemente denominaram aprendizado da impotência, que não só influencia as mulheres a ficar com parceiros alcoólatras, patrões exploradores e grupos que se aproveitam delas e as importunam, mas também faz com que elas se sintam incapazes de se erguer para apoiar aquilo em que acreditam profundamente: sua arte, seu amor, seu estilo de vida, sua preferência política."

Pergunto: Você acha que perdeu seu poder de lutar pelos elementos da alma e da vida que mais valoriza?

Vamos conversar sobre isso? Se não tivermos coragem para falar sobre essas questões, elas jamais se resolverão...

Analú