quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

XV - Férias Selváticas

Olá! Acabaram-se minhas férias auto-impostas, e cá estou eu, cumprindo meus ciclos. Espero que você tenha entrado em 2008 com o pé direito, e que este ano te traga muitas coisas boas! Desejo, do fundo do meu coração, que você consiga viver de acordo com suas mais profundas convicções. E, se você perceber que nem ao menos sabe exatamente quais são suas convicções, meu desejo é o de que você pense profundamente sobre isso.

Foi o que fiz, no início de janeiro. Depois das festas de final de ano, e de toda aquela obrigatória euforia generalizada, veio uma calmaria gostosa, e entrei numa introspecção que me ajudou a rever tudo o que tenho feito na vida. Posso dizer que, verdadeiramente, mergulhei fundo em meus sentimentos e, mais uma vez, bati longos papos comigo mesma. E me senti super bem, porque vi que tenho estado a meu favor.

Durante os últimos anos eu vinha fazendo contatos íntimos com minha alma, que, muitas vezes, clamava por coragem, para realizar mudanças que a fariam mais feliz. Depois de conhecer “Mulheres que correm com os lobos”, vi que havia um respaldo científico para tudo aquilo em que acreditava e passei a escutar minha mulher selvagem com muito mais carinho e atenção. Como resposta, ela parece ter se expandido, se manifestando muito mais claramente, e me apoiando em decisões difíceis, mas que eu sabia que me trariam tranqüilidade. Nunca, em toda minha vida, eu havia vivido tão intensamente o que sou de fato, e isso foi muito bom! Nunca tive uma percepção tão clara do que me faz bem, e do que não me faz bem. E nunca consegui defender tão ferrenhamente meu direito de viver como gosto, estando com quem quero, fazendo as coisas que amo, adequando-me aos meus ciclos, respeitando e sendo respeitada, sem hipocrisias. Posso dizer que consegui delimitar meus territórios, que estive alerta, mais consciente e intuitiva, que falei e agi em minha própria defesa, sempre que foi necessário, que já sei a quê pertenço e, finalmente, que já estou tendo uma visão bem mais clara de quem é da minha matilha. Enfim, apesar de ter problemas, como todo mundo, nunca estive tão confortável na minha própria vida, e isso minimizou incrivelmente esses problemas. Além disso, tenho identificado cada vez mais os lados negros da minha psique, conseguindo, na maior parte das vezes, dialogar civilizadamente com eles.

Outro saldo positivo do ano foi o fato de eu ter provado a mim mesma, empiricamente, que, quando me aceito, e fico do meu lado, as pessoas que realmente valem a pena também me aceitam.

Passada a fase introspectiva, foi natural ter o desejo de criar (você se lembra da história dos três rabinos?). Estive envolvida com artesanato, confeccionando algumas peças decorativas para enfeitar a minha casa, que agora digo que é uma casa feita à mão, de acordo com essa vida feita à mão que quero ter (você entenderá melhor essa expressão quando estudarmos a história dos sapatinhos vermelhos). Fiz um abajur de passa-fita multicolorido, pintei um velho vaso e o enfeitei com flores secas, e comecei a fazer um par de quadros que ainda não consegui terminar, porque é um trabalho muito elaborado. Mas estão ficando bonitos. Decorei uma caixa de madeira com um desenho feito em alumínio, e a presenteei ao meu filho, para guardar algumas tranqueiras. Ficou bacana! E andei fazendo bijuterias, que, ao lado das revisões de texto, são minha fonte de renda mais imediata. Como sempre, não consigo fazer o óbvio. Pesquisei várias formas de moldar e colorir a cerâmica plástica, que é o material com o qual mais trabalho, porque me encanta a idéia de pegar um pedaço disforme de massa e transformá-lo numa peça de arte que fará com que alguma mulher se sinta mais bonita.

Também assisti vários filmes bons, que não havia assistido no cinema. E estive me dedicando às ilustrações de um conto que vou postar nesse blog, porque tem tudo a ver com o conteúdo dele. O nome do conto é “Batatas”, e fala sobre uma velhinha que se vê muito solitária depois de uma vida dedicando-se aos outros. Já fiz 73 ilustrações. Acho que até o final serão umas 90. Esse conto me emociona, e espero que emocione minhas leitoras também. As ilustrações darão um toque levemente divertido a uma história triste. Descobri que ilustrar pode ser incrivelmente interessante, e espero que seja uma das minhas atividades profissionais, num futuro não muito distante.

Puxa vida, quanta coisa! Se alguém tivesse me perguntado à queima-roupa o que fizera durante as férias, talvez eu não lembrasse de nada! Porque não viajei fisicamente para lugar nenhum e, no consenso geral, férias são feitas para se viajar. Mas viajei em tudo o que realmente gosto. E fico feliz por estar vivendo de acordo com o que acredito e prego, e constatar, com a minha experiência pessoal, que o que venho estudando e defendendo é real. Eu vinha, há muito tempo, recolhendo meus ossos e, durante o ano de 2007, comecei a cantar para eles.

Um último comentário: quando comecei a escrever este texto, repassei tudo o que havia escrito nesse blog. E, ao reler a descrição que Clarissa dá dessa verdadeira síndrome que acomete as mulheres modernas, a “falta de alma”, senti um prazer gostoso, de quem fez o dever de casa. Reveja estes sintomas:

“Sensações de vazio, fadiga, medo, depressão, fragilidade, bloqueio e falta de criatividade são sintomas cada vez mais freqüentes entre as mulheres modernas, assoberbadas com o acúmulo de funções na família e na vida profissional. Esse problema, no entanto, não é recente. Ele veio junto com o desenvolvimento de uma cultura que transformou a mulher numa espécie de animal doméstico. "

Você ainda está nessa? Eu, não mais! rsrsrs...

O próximo post será sobre “O Barba Azul”! E, em breve, “Batatas”, um conto ilustrado!

Beijão!

Analú