domingo, 12 de abril de 2015

Visitante Noturno

         
                                                                Pro Rafael, com amor. 

Vez ou outra,
quando o pai lhe pede emprestada a cama,
ele vem,
travesseiro debaixo do braço,
sorriso estampado no rosto,
felicidade ambulante.
Se embrenha pelos meus lençóis,
busca minha mão embaixo da fronha,
pede o beijo antes do sono.
Dorme em paz.
Nenhum outro homem
jamais foi ou será tão feliz
por dormir ao meu lado.
Sinto-me plena.
Pela manhã,
saio por um momento da cama,
e volto, em seguida, gelada.
Encosto-me em seu calor,
me aqueço instantaneamente.
Procuro seu pé, que ele,
generosamente,
me oferece, gostoso e quente.
Ficamos assim,
ele dormindo, quase roncando,
pezinho encostado ao meu.
Sinto seus dedinhos gordos se movimentando
num doce carinho improvisado.
Cabeça oca,
Morfeu me dominando,
flagro um riso em meus lábios.
E antes de me entregar por inteiro ao sono,
raciocino, embriagada,
que ser feliz é tão simples,
tão fácil,
quase nada...

                                     Ana Lucia Sorrentino