quarta-feira, 24 de junho de 2009

Poesia - Frustração

Cada homem que não amo,
cada conto que não escrevo,
cada desejo que engulo em seco,
encurtam meu caminho
a um final desatento.
Amargo o que não posso,
ou mesmo podendo não faço,
porque me fica a vontade.
Eu, pessoa incompleta e perdida,
não querendo machucar ninguém,
machucando minha própria vida.
Eu, dando adeusinhos ao tempo,
me equivoco inteira.
Não queria que meu final
fossem poucas recordações
e muito arrependimento.

Ana Lucia Sorrentino, em Alento

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Abrindo meu Diário II - “Inter-atividade” (2007)

Olá pessoal! Lá vai mais um pedacinho das reflexões de Desromance:

Ainda de manhã, as cebolas mais ardidas que nunca, a pressa pro almoço sair na hora, hora que, a bem da verdade, não foi ela que determinou, e na Globo News duas garotas falam sobre seus livros, suas vidas, seus métodos, seus estudos... É pós graduação, mestrado na Alemanha, viagens, coisa e tal... Os olhos lacrimejam, já não enxerga mais nada, mas sabe quem é essa do lado direito... As pessoas aparecem assim, de repente, e de repente estão na primeira página do Caderno Dois. Uma pitada de sal na panela, uma pitada de inveja no corpo inteiro. Mas não é boba, no fundo sabe que ninguém aparece assim tão de repente. Por trás dessas coisas tem sempre um esquema de planejamento, “o que eu quero pra minha vida”, estudo, especialização... isso tudo não “sai” espontaneamente como o que faz, tão da alma...
Agora as pessoas escrevem sobre o ânus e fazem o maior sucesso...Parece que o povo gosta de sofrer. Como se já não bastasse a realidade... Será que devia ter planejado tudo, desde o começo? Será que se tivesse escrito sobre a merda, e não sobre o amor, já teria virado best seller? Foi deixando acontecer, amava e escrevia sobre o que mais fazia, que era amar, ou não amar, e de repente no “Happy Hour” a Astrid mostra que agora as mulheres estão planejando tanto, e priorizam tanto a vida profissional, que às vezes chegam aos trinta e poucos anos e nada aconteceu em sua vida pessoal e aí ficam aflitas porque ainda não constituíram família, ainda não têm filhos, e já quase não dá mais tempo. Então pensam em fazer produção independente, porque logo vem a menopausa e depois da Xuxa tudo é válido... Nunca planejou nada... Deixou rolar. Novinha de tudo se apaixonou perdidamente. Amou. Confiou plenamente. Se entregou de corpo e alma. Encostava o rosto ao peito do marido e se acreditava totalmente segura... O mundo podia acabar... Que saudade... Veio um filho, veio outro... Amava aquilo tudo. Amamentava, ficava abobalhada, era a pessoa mais feliz do mundo... O segundo foi mais avassalador, talvez porque já tivesse perdido o medo, e aprendera a desobedecer as regras impostas por manuais ou pediatras...Deixava dormir na cama dela, deixava mamar à qualquer hora, a maternidade trazia à tona seu instinto totalmente selvagem... Um lado seu que só lhe trouxe alegria... Então, entre uma fralda e outra, entre um ir e vir da escola do maior, entre um carinho e uma briga com o marido, saía uma poesia, um conto, um desabafo...Às vezes quebra o pau com os filhos, e diz que se arrepende de ter ficado em casa cuidando deles, mas é só da boca pra fora. Na hora em que vê as imagens de uma babá batendo num bebê, no SPTV, dá graças a Deus... As mulheres agora não ficam sem trabalhar fora, mas colocam câmeras de vídeo pra filmar qualquer possível atrocidade que as babás façam com seus filhos. Depois, quando a coisa já aconteceu, despedem ou prendem a babá. Fica pensando se guardam o filme para a posteridade. Quando pensa nessas mulheres que conseguem administrar tão bem a vida, que conseguem coordenar bem trabalho dentro e trabalho fora, e cuidar de crianças, o que mais enxerga é que por trás de toda mulher bem sucedida assim há alguma outra que faz o trabalho em seu lugar. Por prazer, ou por necessidade, são as avós que acabam criando os filhos das filhas. Ou as empregadas. Sua mãe nunca pensou em assumir nenhuma responsabilidade da filha... Ficou assim, emoção pura e fora do mercado de trabalho. Pensando bem, nunca foi tão feliz quanto naquele período em que se sabia absolutamente necessária dentro de casa, então não sofria a angústia da dúvida e da auto-cobrança. Não se torturava...
Mas...quando percebe que não tem poder de escolha, que não tem liberdade, que às vezes é obrigada a aceitar coisas que não quer... que seu grito, muitas vezes, chega aos ouvidos de quem deveria escutá-la como um ínfimo sussurro engasgado, se revolta. Em seguida, olha pros filhos e esquece tudo. Ainda tem tempo... Está viva, e a idade não vai prejudicá-la. Para o que ama fazer, quanto mais idade, mais conhecimento, mais sabedoria, mais paciência...
A mesa posta, os pratos quase todos lascados... Anda muito estabanada. Sempre fazendo uma coisa pensando na outra... Como queria ter uma empregada pra poder fazer o que realmente tem vontade!... Não lascaria tanto a louça pra correr pro computador... Se não fosse tão treinada, faria primeiro o que gosta, se dedicaria à sua arte, deixaria o serviço de casa pra mais tarde... Não sabe bem como, porque se na hora do almoço e do jantar não tiver comida na mesa, fica todo mundo com cara de retirante nordestino...
Não deu pra estudar... pelo menos não o tanto que precisava... Mas, será que precisava mesmo, estudar tanto assim, pra exercer algo que acredita que tenha nascido com ela, e que a acompanha sem trégua, e que a faz tão feliz ao fazer? Algo que, se não faz, incomoda, e fica borbulhando na sua cabeça, e quando sai, sai legal, sem rebuscamento, mas cheio de vida?
Liga pro filho, que está trabalhando desde as oito da manhã. Avisa que o almoço está pronto e ele vem voando, senta à mesa tenso, desesperado de fome, parece que nem vai conversar... Dez minutos depois, está rindo, relaxado. Trocaram um monte de idéias... Isso deve lhe fazer bem, dá um descanso pra que a tarde renda melhor... Vai embora que nem cachorro magro, sempre esquece do seu beijo, mas ela fica feliz por vê-lo assim, tão ativo, e realizado com o próprio trabalho. Então o mais novo coa café (às vezes), e ela lhe pede pra inventar alguma sobremesa, e assistem um pedaço da novela juntos, e dão um monte de risadas, porque novela é sempre uma palhaçada, seja drama ou comédia... E descobriram que a grande graça é assistir junto, porque assim ficam falando as maiores barbaridades, que superam as que estão assistindo... se divertem. Está tentando convencê-lo a escrever um roteiro com ela, palhaçada pura, mas ele acha que não é capaz... bobo... Ama tanto esses moleques...
Louça lavada, mais um prato lascado, agora é tirar a roupa do varal. Outro dia viu a Bruna numa revista de celebridades e ficou pensando se ela faz essas coisas. Tem sempre a impressão de que gente tão bonita e tão bem sucedida não faz coisas simples assim. Acabou escrevendo um conto: “Carta pra Bruna”. Falando das facilidades que achava que a vida deu pra ela... E da beleza dela, e se ela tinha idéia de que só por causa daquela beleza toda a vida deve ter sido muitíssimo mais fácil pra ela. Piração mesmo, porque nunca ia mandar a carta, mas talvez alguém publicasse... Leu, num desses pocket books, que certa vez o Mário Quintana foi num programa de rádio, e a Bruna também foi, e pagaram cachê pra Bruna e pro Mário não... Foram fofocar pra ele e ele ainda comentou que era normal, porque ele não tinha as pernas dela! O mundo às vezes lhe parece muito injusto...O Mário era tão lindo! Incrível esse paradoxo: acredita que todo mundo se apaixona pela Bruna, por causa da beleza dela, mas se apaixona pelo Mário Quintana e pelo Drummond, os dois com mais de oitenta anos e falecidos! Só de olhar pras fotos deles, com todas as suas rugas e seus olhares ímpares, lhe dá uma explosão de amor! Nunca lia poesia, só escrevia, intuitivamente. Nunca teve muita paciência pra ler poesia, mesmo que tivesse tentado muito pouco. Aí, um dia, entrou no Memória Viva e ouviu Drummond lendo suas poesias. Dali foi pro Releituras e começou a ler as do Mário Quintana. Aí olhava pras fotos deles e seu coração ardia dentro do peito. Foi paixão pura! Leu uma crônica do Drummond, de um dia em que ele estava meio sem assunto, e escreveu que não ia ter crônica e começou a fazer elucubrações a respeito dessa coisa de escrever, e que os outros viviam enquanto ele escrevia sobre a vida. Sentiu em vários textos dele essa vontade de estar mais na vida, mais perto das pessoas, menos em posição de observador. Acabou de ler a crônica e queria poder abraçá-lo, beijá-lo, chorou até. Porque ele escreveu tudo o que ela sempre sentira, e com uma simplicidade e com uma modéstia... Essas são as pessoas realmente incríveis! – pensou. Isso lhe deu a convicção de que tem que ser o que é, não adianta ficar tentando parecer ser mais... Além disso, há muito já percebera que o barato de escrever é quando as pessoas que lêem se identificam tanto que se emocionam, porque percebem que a vida de todo mundo, no fundo no fundo, é igual. E que as pessoas vivem seus problemas, achando que a sua vida é pequenininha, mas quando lêem um grande autor que fala das mesmas coisas, isso é um enorme consolo... Quando leu A Idade da Razão foi assim. E No Caminho de Swann também. Ficou com muita vontade de falar das coisas corriqueiras, do dia a dia.
Por tanto tempo desejara ir no Jô, divulgar seus trabalhos, mas se perguntava como é que se sairia, porque tinha medo de demonstrar sua enorme ignorância. Agora, mais velha, parece que esse problema deixou de existir, porque demonstraria sua ignorância sem a menor vergonha na cara! E se ele lhe perguntasse qual o seu “método” para escrever diria que não tem método nem disciplina, e que, aliás, isso está acabando com ela, porque escreve quando está inspirada, e isso normalmente acontece de madrugada, aí vai até quatro da manhã e está ficando com umas olheiras crônicas, uma cara de boêmia mesmo. Mas – sorri tristemente - essa história de ir no Jô até já perdeu a graça... Vai tanta gente boba lá... O Quintana foi esnobado na academia e fez um versinho sobre isso – eles passarão, eu passarinho! Ela também passarinha pro Jô!
Sai correndo, o elevador a ignora. Quer emperrar sua vida. Desce a mil pelas escadas. Vai ao banco, à farmácia, ao mercado... segunda é sempre essa correria. O trânsito, em seu bairro, está um inferno. De uma esquina à outra vai um tempão. Também, não sabe o que faz, que não se muda pra um lugar mais calmo... A sobrinha, do interior, paga um décimo do que ela paga pra faxineira. Respira ar mais puro, conversa com todo mundo... Come bem... Por que será que é tão difícil mudar de atitude? O caixa do banco é novato, está perdido. Não tivesse que pagar uma conta vencendo desistiria. O sistema do computador da farmácia cai bem na sua vez. Queria poder sair correndo com as coisas na mão, mas se controla. Não deixariam, de qualquer forma... Há tanta coisa que queria fazer, mas que não deixam... Parece que o mundo sempre tem infinitas mães pra lhe controlar... Mães de olhos enormes, dentro dos quartos, e dos banheiros... Investigando o tempo que fica embaixo do chuveiro, se a TV está ligada sem ninguém pra assistir, se a música está alta demais, se as luzes da casa estão todas acesas, se acordou tarde, se comeu muitos doces... Argh!
Um milhão de coisas pra guardar... E não sobrou nada do almoço. Lá vai cozinhar de novo... Liga a TV, como faz sempre. É uma estratégia: finge que está assistindo TV, e que faz a comida pra se distrair. É muito melhor do que pensar que está fazendo a comida e se distraindo com a TV. Agora é a hora do Gaspa. Já virou seu amigo, só falta piscar pra ela. E diz, como diz tudo o que quer ouvir! Essa história das mães seria um prato cheio pra ele! Com certeza a xingaria de demônio! Porque sabe que essas mães todas estão dentro dela, e ela não consegue exorcizá-las. Não consegue ou não quer? – pode imaginar-se lá, no programa, levando um carão dele em rede nacional.
As costas estão doendo, passou muito tempo em pé, dormiu muito pouco essa noite. Apronta algo simples pro jantar, cada um vem numa hora. O último é o mais novo, que estuda até as onze. Até limpar tudo já passa da meia-noite. Vai fazendo e vendo as novelas. Se lembra o tempo todo de uma piadinha do Frank e Ernest, que leu outro dia. Está como o Frank, “praticando humildade”. As novelas a insultam e humilham, xingando-a de idiota, e ela não faz nada. Continua assistindo. É um treino e tanto... Dez e cinqüenta. Hora de sair de novo. O filho já sai já já, e se ela não chega logo ele fica muito sozinho, o pessoal vai embora rápido, a porta da escola fica vazia. Queria poder confiar, e deixar que ele viesse à pé, mas nessas idas e vindas, tão perto de casa, ele já foi assaltado duas vezes. Sempre que o avista, ao longe, dá graças a Deus. Por mais que queira praticar O Segredo, a possibilidade de acontecer algo com os filhos quando estão na rua é sempre muito presente na mente das mães. Mentes imperfeitas, que se acostumaram a acreditar no mal. Mas é tão difícil acreditar em outra coisa, quando a campanha pró desgraça que a mídia faz é tão maciça... Há uma verdadeira indústria da tristeza e da insegurança! Haja fé...
As crianças, tão homens, já sossegaram. O marido ronca. Com gestos pequeninos ela acende o abajur. Liga o notebook, acessa a conta bancária, verifica seu e-mail. “Você tem 0 mensagens”. Que vida boba... Pensa em Drummond, falando de sua infância difícil. Do medo sempre presente, dos adultos rígidos, do excesso de respeito... Disse ter vomitado tudo isso em suas poesias. Também quer vomitar. Abre o word, um novo arquivo, e pensa no que vai vomitar agora. O ronco do marido ecoa em seu cérebro cansado. Se digitar algo talvez ele acorde, com o barulho das teclas... Precisa trabalhar amanhã. Nunca entendeu porquê pessoas que casam têm que dormir juntas... Suspira. Está cansada demais. Já está quase caindo em cima do teclado. Desliga tudo. Põe o notebook de lado, mal dá tempo de se virar. Fica pra amanhã. Já está sonhando.


Beeeijos!!!

Analú :)

terça-feira, 16 de junho de 2009

Abrindo meu Diário I - reflexões para o livro Desromance, a ser publicado nalgum dia, se Deus quiser! ;)

Olá! :)

Hoje abri uma pasta em meu notebook que há muito não abria. É uma pasta que contém textos que escrevi numa fase em que me trabalhava mais intensamente para me reencontrar comigo mesma. Achei os textos tão interessantes, por serem altamente espontâneos e por terem um conteúdo totalmente voltado ao entendimento de mim mesma e do mundo que me rodeava, que senti vontade de publicá-los aqui, no meu blog, para que sirvam de inspiração para mulheres que queiram se trabalhar. É incrível como sentar-se, pensar um pouco, e escrever sobre nossos pensamentos e sentimentos de forma razoavelmente bem organizada nos ajuda a crescer! :)
Acho que cresci, e bastante, nessa fase! Tanto que me dou ao luxo de estar aqui, tentando ajudar outras pessoas a crescerem... rsrs...
Por isso vou publicar, esporadicamente, esses textos altamente intimistas, considerando-os realmente parte desse workshop de reencontro com nossas almas. Espero que vocês entendam que nem sempre essas idéias são exatamente as que tenho hoje, mas acho super válido expor esse processo de auto-conhecimento através da escrita.

Desromance (2007)
Impressões impressionadas e às vezes impressionantes de uma mulher que nunca consegue se adaptar a normas e convenções e que não se satisfaz com o que parece satisfazer todo mundo.

I - Comprei este caderno há séculos, com a séria intenção de usá-lo para escrever um novo livro. Guardei-o na gaveta do meu criado-mudo, que já estava quase aprendendo a falar pra me lembrar de minha tão bem intencionada intenção.
Mas, antes disso, Quiroga foi mais esperto. Eu, que quase nunca lia meu horóscopo, agora me viciei. Mais do que em meu próprio horóscopo, nas sábias palavras de Quiroga. Aquela primeira frase, em que ele dá a posição dos astros no céu, pouco me importa. O que me fascina mesmo são suas otimistas previsões de um mundo melhor. Quando ele diz “breve” não posso imaginar o que isso signifique, mas o que importa realmente é que “breve” é um tempo que virá. Isso já me consola. “Breve as ilusões materialistas cairão por terra... Breve a humanidade descartará o ódio e as vilezas que tornam sua alma grosseira e obscena... Breve deixaremos para trás as ilusões que nos fazem sofrer e entenderemos que é possível ser feliz na simplicidade...”
Quanta coisa boa... Achei um oásis no meio do jornal. Acabei me viciando. Leio Quiroga, as tiras do Calvin, do Recruta Zero, do Frank e Ernest e faço as cruzadas. Uns instantes de prazer e de consolo que me dou todos os dias.
Geminiana da gema, estou sempre dividida entre tantos interesses, que acabo me perdendo em infinitas possibilidades, que mais me confundem do que outra coisa. Me bifurco, trifurco, quadrifurco, e acabo me diluindo no todo. Na verdade, os dias terminam e não fiz nada. Fiz tudo, mas não fiz nada. Sei que o que fiz, dedicando-me à família, ficará para sempre em cada um de seus membros. Em sua saúde física e mental, em seu desenvolvimento, em sua alegria. Também em seu sarcasmo, sua ironia... Sei que ficará em suas células, em sua memória, sei que fará parte de seus motivos e de suas resoluções. Às vezes, pensando nisso, consigo serenar essa minha alma tão inquieta, tão insatisfeita. Mas são momentos. Quando percebo que o mundo vive em outra, que as pessoas estão preocupadas com as “coisas”, que parece que ninguém me vê por dentro, caio em tentação e acredito que estou errada. Algo, que não sei se interno ou externo, me diz maldosamente que não fiz nada. De repente, a tola e previsível ingratidão de filhos adolescentes ou a malcriadeza de um marido estressado me colocam na lona. Banalizam minhas tarefas mais sagradas. Fazem parecer inúteis as horas e dias e anos que me dediquei ao amor. Não foi em vão. Sei disso. Mas me deixo dominar por esse meu lado fútil e fico me perguntando o que produzi de verdade na vida. E esse “de verdade” vem totalmente carregado de conotação material. Então me pergunto que bens possuo, que vida levo, que legado deixarei... Não, não, não... Nessa hora não adianta ninguém me vir com respostas românticas, me apontando o marido que me ama, os filhos perfeitos, a harmonia familiar... Tudo o que tem valor real acaba virando nada mediante a constatação de que, se amanhã eu estiver sozinha, terei que me virar para suprir minhas necessidades materiais e nada fiz, nos últimos vinte anos, para me especializar em algo que possa me garantir isso. Nada fiz. Sei tudo e não sei nada. Uma simples leitura na seção de empregos dos classificados me põe nervosa. Sinto uma azia, uma aflição, uma vontade de chorar. Estou fora do “mercado”. E o “mercado” é o mundo.
Sorte que tem o Quiroga. Leio e releio suas introduções. E de algumas semanas pra cá ele foi me trazendo pela mão por um caminho que acabou aqui. Neste caderno, que estava esquecido dentro da gaveta do meu criado-mudo. Ele me instigou, pacientemente, a retomar minhas raízes e tentar dizer ao mundo, da forma que melhor sei, a quê vim.
Pergunto agora, às próximas noventa e poucas folhas em branco, no que é que isso vai dar...
(Continua no próximo Abrindo meu Diário rsrs... ;) )

Beeeijos!!!!!!!!!

Analú :)

terça-feira, 2 de junho de 2009

Poesia - Três Palavras (um pequeno desabafo)




















Três Palavras

O último copo no escorredor,
a pia brilhando,
o sono chegando.

O banho gostoso,
o quente da água
depois de dia tão frio...

Meninos na cama,
silêncio, enfim.

Lençóis trocados,
acolchoado,
o meu teclado.

A tela em branco,
um tempo pra mim.
O sono vai.

Três palavras
e algo escorre
por entre as pernas.
Lento, morno, traiçoeiro.

Foi a calcinha,
a camisola,
o lençol.

Na corrida,
arte abstrata em vermelho vivo
no chão de madeira clara
e no gelo do piso do banheiro.

Mulher é um ser humano
que não sabe o que é ter paz.

2007

Beeeijos!!! :)

Analú