sábado, 5 de abril de 2014

HeraclitiAna


 
 
 
 
 
 
 
 
Descobri, agora,
que gosto hoje de coisas
que pensava não gostar.
Percebi, de pronto,
que não descobri foi nada:
só fiz experimentar...
Refleti, na hora,
que a muito do que eu achava
que sempre havia gostado,
tinha só me habituado.
Relembrei, então,
de coisas que tanto amara
e, justo por tanto amar,
bem cedo eu me fartara.
Prossegui, por fim,
pensando nas tantas coisas
das quais  eu me afastara,
mas que depois de algum tempo,  
eu quis de novo provar.
Concluí, na sequência,
que devo ter uma essência
que não se deixa alterar:
altera-se por conta própria,
preservando seu princípio:
mudar, mudar, mudar...
Prometi-me, nesse instante,
prestar bem mais atenção:
se aceito por puro vício
ou rejeito por confusão.
E tentar não me fechar
ao que vem de supetão,
pra evitar me privar
do que possa me agradar.
Pois se há algo que diz
esse meu gosto mutante,
é que faz parte de mim
essa mudança sem fim.  

Ana Lucia Sorrentino