sábado, 31 de março de 2012

Rafinha Bastos – Agora a criança chora



Domingo passado Rafinha Bastos, jornalista e comediante, ex-integrante do programa CQC, da Band, foi o entrevistado de Marília Gabriela no De Frente com Gabi, do SBT. E, veja só... a criança chorou...
Imagino que aqui seja até desnecessário detalhar todo o caso, que envolveu Rafinha Bastos e a cantora Wanessa Camargo, porque é algo que o Brasil inteiro acompanhou, não pela importância, mas pelo tamanho da repercussão. Mesmo que não estivéssemos interessados no assunto, o assunto vinha até nós, devido à amplitude da popularidade dos personagens envolvidos.
Mas, resumidamente: Rafinha, em uma de suas piadas de mau gosto, ao falar sobre a gravidez de Wanessa Camargo, disse que “comeria ela e o bebê”. E isso desencadeou uma série de desdobramentos desagradáveis que, parece-me, têm provocado reflexões até mesmo em seu protagonista, que se assume arrogante, mas que chorou ao falar sobre sua preocupação com o pai por conta do episódio.
Essa é uma história de deselegância. De uma tremenda deselegância.   
E, por que quero comentá-la? Por isso mesmo.
Rafinha Bastos é um desses fenômenos que a cultura do trash produz. Quanto pior, melhor.  
Devo confessar que logo que o CQC foi ao ar me causou certa curiosidade, porque me parecia que seu elenco prometia algo diferenciado. Impossível colocar em dúvida a inteligência dos jornalistas e comediantes que ali atuavam. Não demorou muito para que eu percebesse que, apesar da promessa, o programa caía no mesmo de sempre: um humor inteligente em certo sentido, mas apelativo, como quase todo o humor que se produz no Brasil. Uma graça que se faz em cima do desrespeito aos seres humanos, tendo quase sempre como mote o triste e o desagradável. Parece que muita gente acha graça da desgraça. E, pelo que se percebe, deve ser muito difícil escapar dessa fórmula já consagrada. E Rafinha sempre foi, dos integrantes do programa, o mais apelativo. Depois de desligar a TV ou trocar de canal algumas vezes, por conta de suas piadas de extremo mau gosto, desisti por completo de assistir o CQC.
A questão é: por que é tão frequente a inteligência nos prestar esse desserviço de plantar um pouco mais de falta de educação, grosseria, deselegância e machismo num país tão carente de boas sementes de educação, gentileza, e elegância? Essa é uma daquelas contradições pra se pensar por toda uma vida, se necessário: por que a inteligência faz questão de produzir desinteligência?
Em certo momento foi plantada uma ideia de que o público gosta de porcaria. Tanto regaram essa ideiazinha, tanto esforço fizeram pra que ela vingasse, tanto a semearam em mais e mais cabeças, tanto recompensaram quem comprou essa ideia, que hoje a praga se alastrou de tal forma que tomou conta de tudo.
A molecada que cresceu assistindo Hermes e Renato e Pânico na TV acha super normal um comediante que apela pra grosseria ter o Twitter mais influente do mundo. E acaba achando que isso é sucesso, e que o cara realmente deve ser o máximo, pra conseguir tanta popularidade.
E então, nós, que queremos educar, perdemos um tempo enorme tentando explicar que ser muito popular não significa, necessariamente, estar fazendo algo de bom. E que “sucesso” é algo muito subjetivo. Ter muita popularidade, ser muito seguido nas redes sociais, exercer muita influência não significa, necessariamente, que se está fazendo um belo trabalho. E, será mesmo possível que alguém lúcido possa se considerar uma pessoa de sucesso, tendo consciência de que esse sucesso é fruto da apelação?
O fato é que, embora faça piadas grosseiras em cima de todo mundo, e embora considere isso um direito seu, “em nome da profissão” e da “liberdade”, Rafinha parece, nessa última semana, ter começado a entender que é possível, sim, ser livre, mas até a liberdade tem seu preço. Quando a graça sem-graça que fez em cima de uma família ricocheteou na sua própria família, aí ele percebeu que por trás da piada há seres humanos. E aí, pensando no sofrimento que está causando ao pai - vejam só - , Rafinha se emociona e chora. E diz que a única coisa que lhe importa é a família. A dele, é claro, não a dos outros. Menos mal, hein... parece que a criança está começando a crescer.
Confesso que, pra mim, foi um alento perceber que até alguns  jovens que o tinham como “o cara” no início disso tudo conseguiram refletir e perceber que pra tudo há um limite. E que tudo tem consequências.
Bem...pelo jeito, Rafinha é aquele que perde o amigo, mas não perde a piada. E, além do amigo, perde também o emprego. Mas, como ele mesmo diz, ele “está cagando pra tudo isso”. Porque, pra certo tipo de gente, enquanto a coisa não dói no bolso, tá tudo bem. E como nós vivemos num país onde a boa educação vale muito pouco, uma outra emissora já o contratou, muito provavelmente por um salário milionário. Certamente não com o objetivo de ter uma programação de boa qualidade, mas focando na audiência, que, no final das contas, é lucro certo.
            E isso vira uma bola de neve: a grosseria ganha espaço e faz discípulos. Que hoje consomem grosseria e amanhã produzirão grosseria. É um vale-tudo em nome do dinheiro.
            E pensar que há tanta gente valorosa e bem educada que se empenha para criar um mundo um pouquinho melhor que nem emprego tem...
                                                                                                                                                    Analú                                                                                                    30/03/2012

Link para a postagem original: http://gazzetadachapadadiamantina.blogspot.com.br/2012/03/rafinha-bastos-agora-crianca-chora.html?spref=fb

quarta-feira, 21 de março de 2012

Tão pouco ;)




Um sono bem dormido.
Um beijo de bom dia.
Um trabalho bem feito.
Comidinha gostosa,
em agradável companhia.
Sinceridade e harmonia.
Uma boa sesta,
e mais um fôlego.
Um desafio e
uma vitória.
Uma vaidadezinha
e uma boa história.
Missão cumprida.
Ter pra quem contar o dia,
escutar um pouco também.
Ter com quem se preocupar.
Aprender e ensinar.
Uma troca de sorrisos
e o descanso merecido.
Dia de folga:
um belo banho de sol!
Um cineminha ou teatro,
uma brisa na calçada.
Um lençol bem fresquinho
e uma bela gozada.
O livro na cabeceira,
luz do abajur apagada.
E a inevitável questão:  
se sou feliz com tão pouco, 
pra que tanta pensação?

Analú

21/03/2012

sábado, 17 de março de 2012

Joguetes





A vida às vezes brinca
difícil jogo de azar.
No tabuleiro do mundo
espalha um quebra-cabeças
de frágeis peças humanas,
que buscam se encaixar.
Numa tramoia do tempo,
as peças entram aos poucos. 
Algumas num tempo distante,
outras num tempo a chegar.
Noutra tramoia do espaço,
as peças se posicionam:
umas num canto longínquo,
outras bem perto, a esperar.
Por conta de tais tramoias,
durante toda uma vida
peças de encaixe perfeito
jamais irão se encaixar.
E essa paisagem vazada
será sempre um passatempo.
Dessa vida brincalhona
uma obra inacabada.

Analú
18/03/2012

segunda-feira, 12 de março de 2012

Você e Deus



Quem começa a se interessar por filosofia logo percebe que Deus e o Amor são temas recorrentes nos textos filosóficos.
Em  “Amor”  André Comte Sponville, filósofo francês da atualidade, afirma ser esse assunto o mais interessante de todos. Contra os  que não concordam  com  essa ideia, Comte argumenta que, mesmo que não estejamos falando de amor, estamos sempre falando do amor que temos por algo ou por alguém. 
             Assim como o Amor,  Deus parece ser, senão o assunto mais interessante, um assunto quase sempre inevitável para os filósofos. Se ele não for o tema central da reflexão, acabará sendo a causa ou solução para quase  tudo  que não se consegue compreender ou assimilar.                                                      
            Muitas vezes a motivação primeira dos questionamentos filosóficos é um profundo sofrimento por conta de imposições religiosas baseadas em ideias fantasiosas sobre Deus. E não é raro que, na busca pelas suas verdades, o filósofo acabe se enroscando em suas próprias teorias e termine apelando para Deus.  Não é muito difícil entender o porquê disso.
Deus é uma daquelas verdades que encontramos prontas quando chegamos ao mundo. Recebemos essa ideia já elaborada  e  ao longo de toda a nossa vida,  tentaremos entendê-la e estabelecer com ela a melhor forma possível de relacionamento.
Mal aprendemos a pronunciar “mamãe”  e já estamos às voltas com “Papai do céu”.  Crescemos convivendo o tempo todo com  expressões como  “Vai com Deus, Deus é mais, Deus te acompanhe, Deus te ajude, Deus te Guie... Deus castiga. Deus sabe o que faz. Deus escreve certo por linhas tortas. Graças a Deus... Meu Deus!” – Como é que poderíamos conceber com facilidade a ideia de um mundo sem um criador?  
Com todo respeito, e pedindo aos filósofos de carteirinha que me perdoem, eu acho fantástico imaginar que Descartes tenha se torrado os miolos pra concluir que, se havia nele uma ideia de Deus, era porque o próprio Deus havia colocado essa ideia nele. Por acaso Descartes vivia em algum universo paralelo,  isolado de tudo e de todos?
À medida que vamos adquirindo autonomia, passamos a questionar as verdades preestabelecidas e a consequência disso é questionarmos também esse Deus que existiu desde sempre e que suscita tanta polêmica no mundo todo.
Enquanto muitos se contentam com um Deus herdado outros muitos, pelos mais variados motivos, começam a duvidar dele. Considero natural que em certas fases da vida nos sintamos crentes, enquanto que, em outras, fiquemos céticos. Mudar de opinião faz parte do nosso crescimento.
Muito longe de pretender aqui defender a existência ou não de um Deus, o que quero propor é que pensemos sobre as confusões que se criam em torno de Deus e da religião.
Ao longo do ano passado, em vários momentos, durante as aulas de Filosofia Antiga do curso que frequento, percebia-se uma inquietação de alguns alunos quando o professor tocava no nome de Deus. Eles se sentiam incomodados porque, por serem ateus, queriam evitar Deus a todo custo. Num certo momento  perguntaram ao professor se quando ele dizia “Deus” estava se referindo ao “Bem”.  Aquilo criou uma espécie de saia justa, porque ficou evidente que, a cada vez que o professor fosse usar o nome de Deus, se perguntaria o quanto estaria incomodando aqueles alunos ateus. Desnecessário isso. Será que esse alunos não poderiam simplesmente receber a mensagem e decodificá-la silenciosamente? Se para eles “Deus” significava “Bem”, a questão estava resolvida. Eles poderiam , por algum respeito aos alunos não ateus, deixar isso passar batido. Mas não. Havia ali uma enorme vontade de combater a Deus.
Certa noite, encontrei a seguinte frase na lousa: “Deus não existe e não faz falta”. E foi então que percebi claramente o quanto havia de ressentimento ali. E a partir desse momento começou a ficar claro para mim que a presença de Deus na vida do ateu é, muitas vezes,  algo muito forte. Talvez mais forte do que na vida daqueles que naturalmente aceitam Deus como uma verdade indubitável. Excetuando os ateus que simplesmente não acreditam e para quem isso não constitui problema, muitos ateus parecem ser, na verdade, ressentidos.  E se há ressentimento é porque havia uma expectativa que foi frustrada.
Pergunto: quem gerou essa expectativa? Ouso dizer que não foi Deus.  Se existe um Deus, decerto ele  nada tem a ver com as fantasias que os homens criam usando-o como justificativa para manipular o ser humano.
Por conta de tradições religiosas podemos crescer acreditando que Deus é um pai bondoso que jamais permitirá que o mal chegue até nós. Numa barganha que só a razão humana poderia arquitetar, ele nos pouparia da dor e satisfaria nossos desejos em troca de orações, louvores e, quem sabe  até de um dízimo. Em algum momento abrimos os olhos e percebemos que não há privilegiados e  que o mundo está cheio de dor e de mal. E nos decepcionamos profundamente com Deus. É comum nos depararmos com alguém que, de repente, coloca em dúvida a existência de Deus por conta da morte de um ente querido, ou porque percebeu, num estalo, que há injustiça no mundo. É interessante observar que os insights, na maior parte das vezes, se dão quando a desgraça nos toca bem de perto. Decepcionados, passamos a combater Deus, porque nos sentimos traídos.  Mas... pense bem: foi mesmo Deus que nos prometeu um mundo de maravilhas?
Vamos partir do pressuposto de que Deus exista. Se Deus é uma ideia de supremo BEM incrustada na vida das pessoas ao redor do mundo todo e, portanto, quase unanimidade, é concebível que em nome dele se promova a segregação e o desacordo?
Embora saibamos que o próprio conceito de Deus é criação do homem, podemos encontrar nele um sentido. Mas, é preciso ter em mente que tudo o que se fala a respeito de Deus é criação do homem. A fértil criatividade humana produziu  uma variedade enorme de religiões, cada qual com suas particularidades, defendidas com unhas e dentes por seus adeptos. Decorrem daí as intrigas e disputas religiosas, os  jogos de poder e o fundamentalismo, que não raro culminam em guerras. Você acha mesmo que Deus acharia bacana isso?  Cada religião pode forjar todo tipo de desculpa para justificar o injustificável.  O que é uma contradição inaceitável é que, em nome de Deus,  seres humanos fiquem se futricando e se aborrecendo, tentando fazer valer suas próprias convicções.
Há pouco tempo bati um longo papo com uma mãe de família que apanhara durante 24 anos de um marido desequilibrado. Essa mulher atravessara a vida desejando a separação para tentar, finalmente, ser feliz. Ela conseguiu. Assinou o divórcio como quem recebe uma carta de alforria. Mas, então, o pastor com quem costuma se orientar lhe disse com todas as letras que ela jamais poderia casar-se novamente, porque está escrito na Bíblia que uma mulher divorciada não tem direito a um novo casamento. Percebi nela uma enorme impotência para questionar tal condenação à infelicidade perpétua. Será mesmo que Deus condenaria alguém a viver uma vida apanhando e ainda lhe castigaria com a proibição de viver um novo amor? Afinal, Deus não gosta do amor? É concebível isso?
Outro dia alguém postou no facebook uma publicação sobre uma súbita implicância das lésbicas com crucifixos em lugares públicos. Seguiu-se ali uma enxurrada de comentários em que se percebia o quanto de confusão existe sobre ser Católico ou Cristão, ser o Brasil um país laico, sobre serem as lésbicas atéias... enfim, uma bagunça. Mas, abstraindo-se as opiniões pessoais, o que restava ali era uma disputa pela posse da razão. E uma agressividade. Mesmo que às vezes velada, uma grande agressividade. Em nome de Deus. 
Lembrei então de um vídeo em que Drauzio Varella dizia, com muita serenidade, que era ateu desde sempre, e que respeitava todos os religiosos, mas percebia uma grande violência dos religiosos contra os ateus. Como se ateus não pudessem ser homens de bem. São equívocos gerados pelas religiões.   
Todas as vezes que questionei os que defendem a Bíblia como verdade absoluta, perguntando-lhes, afinal, quem escreveu a Bíblia, a resposta que tive foi que foram homens inspirados por Deus. Pois é... mesmo que se aceite que a inspiração veio de Deus, o recado foi passado através da razão humana. 
Quando comento com religiosos sobre a dificuldade que tenho em compreender os textos bíblicos a resposta também é recorrente: é preciso de orientação para entender a fundo as mensagens bíblicas. Pois é... digo eu, novamente. Essa orientação virá de quem? De homens que interpretaram a Bíblia e que me orientarão de acordo com suas próprias interpretações, que, na verdade, não são muito próprias,  porque eles também tiveram uma orientação prévia. Ou seja: não escapamos da interpretação humana.
É assim, graças a interpretações humanas, e pelo não questionamento dessas interpretações, que vemos mulheres agoniadas se sentindo culpadas por desejar viver um novo amor. É assim que vemos grupos imensos cantando louvores motivados pela crença de que Deus ficará feliz com isso. É assim que mulheres estupradas ainda precisam passar por verdadeira tortura psicológica para fazer um aborto. É assim que relacionamos prazeres carnais à culpa. E é assim que, em lugar de nos regozijarmos com uma vida plena, passamos a vida nos debatendo entre aquilo que de fato sentimos e aquilo que as religiões pregam.
            E é assim que concluo que as religiões apequenam Deus e promovem a segregação. E que grande parte dos que se revoltam contra Deus está, na verdade, revoltada contra as religiões.
            Minha sugestão é que, já que a ideia de Deus é algo tão forte e plausível para muitos, e inadmissível, mas ainda assim muito forte, para outros, tentemos pensar nisso sem a interferência das interpretações religiosas.
            Podemos olhar o mundo à nossa volta, rever todo o percurso da nossa vida, sentir o que vai dentro de nosso coração, ouvir nossas próprias respostas e concluir algo. Sabendo, de antemão, que somos livres para repensar Deus enquanto vivermos.
            Porque, se há um Deus e se é importante para você compreendê-lo, isso é trabalho seu.
Isso é entre você e Deus.

Analú

11/03/2012

Postagem original: 
http://gazzetadachapadadiamantina.blogspot.com/2012/03/voce-e-deus.html?spref=fb 

Imagem: www.deviantart.com

quinta-feira, 8 de março de 2012

"Despreocupe-se e pense no essencial"

Eu gostaria muito de viver em um mundo em que todos os dias fossem dedicados a todos nós e em que todos os seres humanos se respeitassem mutuamente, sem qualquer tipo de discriminação.
Mas, hoje é o Dia Internacional da Mulher e essa data não nasceu do nada. Infelizmente, ela é fruto de um evento histórico de extremo desrespeito a trabalhadoras.
Aqui vai o meu abraço carinhoso a todas as mulher
es.
E o meu conselho, parafraseando Marisa Monte:
"Despreocupe-se e pense no essencial." ;)
  http://www.youtube.com/watch?v=xF2OFkO2nns