domingo, 25 de setembro de 2011

Ilusões


            Estanquei alguns segundos em frente ao mural onde se lia: “Concurso de Poesia Fábio Teixeira”. A cena veio inteira: trinta anos antes, a menina que eu era, subindo ao palco, emocionada, pra receber um pequeno troféu por “Baú de Ilusões”.
A foto, no jornal da faculdade, com a melhor amiga, também vencedora, hoje já totalmente desbotada.
            Alguns versos, singelos, me vieram à mente, como se sendo escritos naquele momento:

            Nessa fragilidade de ser humano sensível
            fica, aos olhos de quem me veja, visível,
            um certo tremor, assim como o da paixão.
            É que eu vejo o baú quase cheio
            e me vem então um receio
            de nalgum dia não ter mais
            onde colocar tanta ilusão.

            Nos versos finais, meu consolo era a minha crença de que, nesse mundo, pra quem quer que estivesse vivo, um baú de ilusões nunca teria fundo.
           Entrei na sala de aula levando a lembrança da poesia e, com ela, o rolo do filme da minha vida, que se desenrolou ali, na minha frente. As ilusões que eu colocara naquele baú sem fundo provavelmente haviam se desvanecido pelo tempo, tão etéreas me pareceram naquele momento.
            O olhar pra trás não durou mais que um fiapo, tão desimportante me parece o passado agora. O que sobra dele é apenas o que de fato interessa: aquilo que sou.
            O canto de Cazuza me vem forte, como sempre, quando penso no tanto que nos iludimos, o tempo todo, em relação a tudo:
           
            O nosso amor a gente inventa pra se distrair e quando acaba a gente pensa que ele nunca existiu.

            Acho mesmo que a garota de 18 anos tinha alguma sabedoria...
            Porque segui pela vida enfiando ilusões nesse baú.
            Que importa se elas saíram por baixo, se se perderam no ar, se hoje nem ao menos conseguem ser lembradas com nitidez?
            O que importa é que as tive.
            E quero aqui confessar que mantenho meu baú bem guardado, e continuo a usá-lo.
            E que o que me diferencia da menina de trinta anos atrás, é apenas o tanto de lucidez que hoje tenho em relação à natureza das ilusões que coloco ali. Hoje sei que, assim como Cazuza inventava seu amor, sou eu mesma que invento minhas ilusões. Deliberadamente. E é delas que me alimento. Mesmo sabendo de antemão que quando se forem, talvez eu vá imaginar que nunca tenham existido.



Analú

Imagem: www.deviantart.com

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Não sei do amor



Eu nunca sei
- e sei que jamais saberei -
que espécie de amor seria,
não abortado fosse,
o amor que, por covardia,
como engodo abortei.
E se a minha profecia
não se auto-cumprisse
e o verdadeiro engodo
fosse a minha covardia?
Que amor eu pariria?
Que espécie de amor seria? 











Analú 

Imagem: www.deviantart.com