sábado, 13 de outubro de 2007

Meus mestres


Eu havia prometido que o próximo post seria sobre “La Loba”, mas o Gustavo Gitti, do não2não1 (ele é terrível!) propôs um tema que ficou rodopiando na minha cabeça e acabou tomando a frente. Achei que talvez tenha vindo a calhar, porque tem tudo a ver com crescimento, que é minha proposta aqui. Afinal, se meus mestres me ajudaram tanto, muito provavelmente ajudarão outras pessoas.
Portanto, com sua licença, esse post será sobre “Meus Mestres”.

Resolvi não fazer uma divisão rígida (meu mestre de música, meu mestre de relacionamentos, etc), porque, no final das contas, acabei considerando que todos são mestres de vida, e seus ensinamentos se entrelaçam de tal forma, que acabam se completando nas mais variadas situações.
Como posso exemplificar isso? Meu mestre intelectual pode me ensinar a ser extremamente aberta a tudo, de tal forma que me transforme numa pessoa totalmente eclética em relação à música. Meu mestre espiritual pode me ensinar a ser compassiva, o que melhora extremamente meu relacionamento amoroso, refletindo diretamente na cama. No caminho inverso, meu mestre de cama pode me propor situações que me façam pensar profundamente na vida. Meu mestre musical pode me passar idéias que vão muito além da música, como a alegria, o que reflete diretamente no meu dia-a-dia. E assim vai...
Portanto, vou falar de todos como meus mestres de vida!

Frederico Navas Demétrio
Frederico é psiquiatra, atua no Ambulatório de doenças afetivas do Instituto de Psiquiatria do Hospital da Clínicas da Universidade de São Paulo e é autor do livro “Entendendo a Síndrome do Pânico” (Ediouro).
Tive a sorte de conhecê-lo num momento em que, após ter vivido uma vida inteira com síndrome do pânico, estava em tratamento com um médico que se dizia “expert” no assunto. Bem, o expert me medicara de forma errada, além de insistir na idéia de que eu não precisava fazer análise. Com o tratamento errado, entrei em depressão profunda. Frederico literalmente salvou a minha vida. Além de me medicar corretamente, me ensinou a pensar, com a análise cognitiva e, nisso, foi um mestre e tanto. Foi com ele que aprendi a duvidar de meus pensamentos negativos. E, como conseqüência, aprendi a questionar tudo. Aprendi a domar minhas “cascatas de pensamento”, e ir fundo na busca das origens de minhas crenças, muitas vezes eliminando da minha vida crenças errôneas, que impediam meu crescimento. Com ele entendi que se olharmos a vida realisticamente veremos que ela se dá em nuances de cinza, não no branco total nem no preto absoluto. E aprendi, com isso, a me manter mais estável, a não sair voando por aí pra não cair em buracos muito profundos. E aprendi a buscar o meu prazer. Num dos momentos que considero mais importantes, mais iluminadores do meu tratamento, ele simplesmente me disse: vá atrás do que lhe dá prazer. Na ocasião, a única coisa que me ocorreu foi deitar-me ao sol. E isso foi um germe de felicidade que penetrou em mim, e se revelou extremamente fértil! Passou a ser uma filosofia de vida. É um ensinamento que passo a todos que queiram aprender: o prazer te mantém vivo e faz com que você realize coisas maravilhosas! A partir dele é que vem o sucesso pessoal e profissional.
Quero deixar aqui meu agradecimento a esse médico maravilhoso: obrigada, Frederico!

Allan Kardec
Na mesma fase em que comecei a análise, também conheci a doutrina espírita. Foi através de estudos sobre os textos de Allan Kardec que tive meu primeiro contato com isso que hoje alardeiam por aí dizendo ser metafísica, ou física quântica, ou o “segredo”, em livros que se tornam best-sellers e movimentam quantias inimagináveis de dinheiro. No Espiritismo conheci os ensinamentos de Cristo e percebi a necessidade de ser caridoso, de emanar o bem para receber o bem, de orar a favor dos que nos perturbam, e tantas coisas mais... (não vou colocar Jesus como meu mestre, porque o considero hor concour)
Lendo “A Gênese”, de Allan Kardec, adquiri o que a Igreja Católica nunca me proporcionara: a fé. Porque percebi a perfeição do Universo, com suas leis imutáveis trabalhando sempre a favor do crescimento do próprio Universo. E percebi que tal perfeição é muito maior do que nós, com nossas pequenas mesquinharias. E passei a crer que Deus, ou o Universo, quer o meu bem, o meu desenvolvimento, e, se eu não atrapalhar, ele sempre conspirará a meu favor.

Dalai Lama
Esse monge tibetano e doutor em filosofia budista me fez compreender o infinito poder da compaixão. Compreendi que a prática da compaixão minimiza tudo o que acreditamos que possa ser ruim. Dalai Lama consegue nos mostrar que em qualquer situação, se tivermos compaixão, perceberemos que nossos inimigos não são tão maus assim, muitas vezes nem são nossos inimigos de fato. Ele me reporta o tempo todo a uma frase de Jesus – “O homem é mais fraco do que mau”. Acredito piamente que, a partir do momento em que conseguimos sentir o quanto as pessoas são fracas, e conseguimos sentir compaixão por elas, o amor que emana de nós modifica sua energia, amenizando qualquer sentimento ruim.
Os textos do Dalai Lama vieram ratificar o que já havia aprendido no espiritismo: que tudo tem dois lados, que não podemos ver as coisas só pela nossa ótica, precisamos nos colocar no lugar do outro, tentar entender o que ele está pensando e sentindo.
Também foi através dele que percebi o quanto todos os seres humanos são iguais, o que me deu uma imensa tranqüilidade para me expôr mais, a mim e a minhas fraquezas, o que, no final das contas, me fez mais forte e diluiu em muito qualquer sensação de solidão. Nesse mundo, passei a me sentir num lugar seguro.
Outro ensinamento desse mestre que passou a fazer parte da minha vida foi o de que simplesmente fazer algo prestando muita atenção já vale como uma meditação. Quando estou envolvida em uma tarefa, procuro estar sempre “inteira”, entregue, e raramente o que faço nesse estado me provoca cansaço.
Finalmente, aprendi com ele que felicidade é uma condição interna, independe do contexto externo. Que se a mente estiver confusa e agitada, bens materiais não podem nos proporcionar felicidade. Que felicidade é paz de espírito, e é possível.
Seu livro “A Arte da Felicidade: Um Manual para a Vida”, é realmente um manual, que vale a pena ler, reler, praticar, e ter sempre por perto, pra relembrar.


Gasparetto
Ele não quer ser rotulado de nada, porque quer ter liberdade total. Já foi espírita, agora não quer estar vinculado a nenhuma religião, porque acredita que a religião cria divisões, mas é espiritualista. Já foi psicólogo, mas cancelou seu registro. Diz que um de seus prazeres é “mudar a toda hora”. Tem vários livros de auto-ajuda, faz palestras e workshops e tem um programa diário na Rede TV, o “Encontro Marcado”, às 19hs.
Há um bom tempo acompanho seu programa e já assisti algumas palestras suas. E considero-o, verdadeiramente, um mestre.
Gasparetto tem me dado “chaves” para me desenvolver nesse mundo real, cheio de imperfeições. É realista, cru, verdadeiro. Com ele aprendi que o mundo me trata como eu me trato. Que não adianta ser “boazinha”, mais vale ser autêntica. Que a raiva enrustida acaba se transformando em doenças, portanto, melhor expressá-la, com naturalidade. Que é preciso “soltar a franga”, expressão que usa para dizer que precisamos deixar nossa alma se manifestar, da forma que é, sem medo do julgamento alheio. Que quando me gosto, os outros também gostam de mim.
Com a ajuda do Gasparetto consegui me desvencilhar de relacionamentos que me prejudicavam, e consegui entender que minha felicidade só depende de mim, e que não posso esperar que todos que estão à minha volta sejam felizes para me sentir com direito à felicidade. Que cada um é responsável por si mesmo. Que agimos em “parceria” com Deus, e não devemos esperar dele uma atitude paternalista.
E foi assistindo os programas do Gasparetto que percebi essa verdadeira síndrome de falta de alma que ataca tantas mulheres, e acabei chegando à Clarissa Pinkola Estés, minha mais recente mestra.

Clarissa Pinkola Estés
Ela é psicóloga junguiana, contadora de histórias e autora de vários livros, entre eles “Mulheres que correm com os lobos”, o motivo da existência desse blog. Nessa obra, a autora faz verdadeiras “escavações psíquico-arqueológicas nas ruínas do mundo subterrâneo feminino”, reaproximando as mulheres de sua essência selvagem e restaurando sua vitalidade esvaída. Quem quiser saber mais sobre a autora e sua obra pode se aprofundar no conteúdo desse blog, cujo objetivo principal é realizar um “worshop virtual” com os textos do “Mulheres que correm...”.

Gustavo Gitti
Filósofo, pedagogo e blogueiro (entre várias outras coisas), foi lendo seu blog que percebi que um blog pode ser um instrumento maravilhoso, quando bem usado. A idéia de divulgar a obra de Clarissa estava borbulhando na minha cabeça, mas eu não sabia exatamente como, e queria algo que tivesse uma dinâmica, que fosse “vivo”. Quando me deparei com o trabalho do Gustavo e percebi que as pessoas comentavam seus textos e que outras pessoas comentavam os comentários, achei perfeito! É realmente, um verdadeiro workshop virtual. Até então eu tinha uma idéia meio primitiva do que seria um blog. Diariamente entro no seu blog, admiro seu trabalho, e penso em como poderia melhorar o meu, que mal começou a engatinhar. Ou seja: Gustavo tem sido uma inspiração constante, portanto, já o considero como um mestre!

Meus filhos
Até ter filhos, considero que fui uma pessoa muito séria, ensimesmada. Os filhos vieram, e veio junto a alegria. Eles me ensinaram a amar a forma mais pura e desinteressada de amor. E me ensinaram a não levar a vida tão à sério, não ser tão cheia de culpas, e curtir mais.
Todos os dias me ensinam a ser mais leve, mais alegre, menos rígida em meus julgamentos. E tudo isso sem nenhuma didática avançada, apenas sendo quem eles são, dois caras maravilhosos! Obrigada, Lucas e Rafael!

A Vida
Quando tudo o mais falha, ela vem e se impõe e o aí aprendizado é pra sempre! Por isso, acima de tudo e de todos, ela é a verdadeira grande mestra! Meu muito obrigada à vida!

Analú

4 comentários:

Gustavo Gitti disse...

Ficou demais, Analú!!! Já passei algumas pessoas lerem.

A vida como mestre... é isso mesmo.

Muito interessante sua experiência com a Síndrome do Pânico. Tem um mestre budista que passou por isso também.

Dele, depois leia: A ALEGRIA DE VIVER, Ed. Campus.

Abração!

Ana Lucia Sorrentino disse...

Obrigada pelo comentário e pela dica, Gustavo! Pode ter certeza de que vou ler!
Beijo!

Analú

Ricardo Soares disse...

ana... que coisa!!!nao sei mesmo o que aconteceu com um comentário extenso que deixei aqui no seu blog agradecendo todas as visitas que fez ao meu e fazendo a vc uma menção elogiosa sobretrudo em relação à poesia que citava o metrópolis... eu te enviei esse comentário no domingo de noite e agora não o vejo aqui... decerto eu fiz algo errado ou deu uns daqueles tilts comuns que rolam na internet... mas quero que vc saiba que já tinha registrado minhas impressões sobre sua delicadeza e as palavras legais que disse pra mim... obrigado e volte sempre...beijos
ricardo
ps. espero que esse comentário chegue então...

Ana Lucia Sorrentino disse...

Ricardo: Tá perdoado!Eu só queria mesmo que você soubesse que gostei muito do seu blog e vou freqüentá-lo! E sempre que tiver tempo, farei meus comentários.
Agora, se você quiser se redimir de qualquer coisa (rsrs...), visite o meu também, e deixe seus comentários. É um blog para mulheres, mas pitacos masculinos, com certeza, só ajudarão!

Beijo!

Analú