Se você dirige, já deve ter vivido alguma situação assim: você está na direita, devagar, avista uma vaga, dá seta, e começa a encostar. O motorista do carro de trás cola na sua traseira e começa a ficar impaciente porque você não sai da frente. Você está com a luz de ré acesa e a seta ligada, mas ele acha impossível que você esteja querendo estacionar. Não é possível que isso tenha acontecido bem na frente dele!!! Há pouco tempo, numa situação idêntica a essa, enquanto eu tentava fazer o motorista atrás de mim perceber que eu estava estacionando, ele gesticulava loucamente, numa mímica de “toca pra frente”, como se desconhecesse o “fenômeno ré”! Isso tem duas formas de acabar: ou você se cansa daquela pessoa que nunca vai perceber que você tem direito de estacionar, e vai dar uma volta no quarteirão, pra ver se dá sorte de voltar ao mesmo lugar e ainda encontrar a vaga, ou você dá uma de marrudo e começa a dar ré em cima do cara, que desiste de te atrapalhar e, numa manobra estabanada, sai te mostrando o dedo do meio, quando não te xingando aos berros.
Passei anos suportando esse tipo de situação e outras tantas situações absurdas de trânsito sem me manifestar. Claro que, por dentro, ficava nervosa, mas, tendo recebido uma educação tradicional, o máximo que me permitia, por ter uma veia italiana, era dizer, em voz moderada: cáspita! Imagine! Era motivo de zombaria dos meus filhos, que achavam o cúmulo da boa educação essa expressão tão mixuruca de revolta! E o pior é que isso realmente não me aliviava em nada, eu continuava me sentindo lesada.
Mas, outro dia tive uma experiência interessantíssima. Para mim, é claro, que sou inocente e ainda não tinha me tocado disso.
Estava voltando da minha mãe, pela Avenida Salim Farah Maluf, no meio de um trânsito infernal e de um barulho mais infernal ainda, quando, chegando perto da minha casa, num certo trecho em que tenho que ficar à direita, para pegar uma marginalzinha que vai dar na minha rua, um motorista estressado começou a buzinar na minha traseira. Fiquei atenta, e olhei para todos os lados, pra ver o que o cara podia estar querendo me avisar, ou se eu estava atrapalhando a passagem dele, ou sei lá o quê. Pra buzinar insistentemente daquela forma, devia haver algum motivo muito grande. Mas eu não encontrava o motivo, e comecei a ficar abismada. Olhei pra um lado, olhei pro outro, e tinha carro em todos os lugares possíveis. Achei que ele estava querendo passagem, mas não tinha como, porque o trânsito estava quase parado, a avenida cheia e, na minha frente havia dois caminhões enormes, que não iam “sumir” só porque ele estava com pressa. Se eu conseguisse realizar a façanha de lhe dar passagem, o máximo que ele conseguiria, com aquele stress todo, seria entrar na traseira de um dos caminhões. Então, cheguei ao ponto em que entraria à direita, para subir a minha rua. Sinalizei, o trânsito andou um pouco mais rapidamente, os caminhões começaram a se afastar, mas o camarada continuava buzinando! Talvez eu tivesse, em algum momento, feito algo errado, sem perceber, mas acho que não seria motivo pra me queimar em praça pública, ou qualquer coisa assim. Não tive dúvida: coloquei a mão pra fora, ergui meu dedo do meio com todo o orgulho possível, e segui meu caminho, sorrindo. Que gostoso! O estressadinho acelerou como um louco, desviou de mim, se arriscando para me ultrapassar no meio do trânsito carregado, e gritou, com toda a força do seu pulmão:
S U A V A A A A A C A !!! Deu pra ver a expressão de ódio em seu rosto, e acho que ele também viu que eu ria da neurose dele! Nunca curti tanto uma baixaria! Numa situação em que, normalmente, quem ficaria descompensada seria eu, inverti o jogo, deixei o cara ir embora nervoso, e fui pra casa rindo! O nervoso que ele estava me fazendo passar se diluiu e virou risada! Foi libertador! Eu não sabia que funcionava assim! Se soubesse, já teria adquirido o hábito de mostrar o dedo do meio há muito tempo! E o mais engraçado é que essa situação está me fazendo rir até agora, porque cada vez que eu lembro do imenso ódio do cidadão por ter recebido um bem mostrado dedo do meio, acho incrível! Só de pensar em quantos xingamentos e buzinadas descabidas levei quietinha, sem revidar, indo pra casa nervosa! Nunca mais! Pra mulheres muito certinhas que passam muito nervoso no trânsito, recomendo esse remédio: mostrem o dedo do meio e saiam rindo! Contanto que tenham por onde escapar, pra se mandar rapidinho, é lógico! Não vá fazer isso com o trânsito parado, que é bem provável levar uma surra!
Mas, como não poderia deixar de ser, cabe aqui uma reflexão. A gente cresce com os pais nos “domesticando”, pra que nunca façamos malcriadezas, pra que sejamos boazinhas, pra que respeitemos todo mundo, e blá blá blá blá blá. Nem sempre o melhor a fazer é ser boazinha! Tem hora pra tudo! E às vezes é muito mais divertido ser malcriada!
Isso me fez lembrar de uma coisa que o Gasparetto sempre diz: "ou você é boazinha, ou é feliz"! Acho que vale a pena pensar nisso! O que você acha?
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