Vou me dar aqui o direito de não apresentar as histórias na ordem exata que elas estão no livro de Clarissa. Explico porquê: Há uma história, meio perdida no meio do livro, que nem ao menos nome tem, mas que, a meu ver, é a que melhor e de forma mais simples explica a "perda da essência" em função da sociedade. É através desse mecanismo, do "querer agradar", querer "adequar-se", que começamos, em tenra idade, a nos distanciar de nós mesmas, a nos mutilar.
Antes de começar a ler, relaxe. Respire fundo. Solte devagar. Nesse momento, você está perfeitamente à vontade? Você está de sapatos? Que tal fechar os olhos por alguns segundos, e sentir seus pés, seus dedos... O quanto dá pra você movimentar seus dedos dentro do seu sapato? O seu sapato é macio ou duro? É bico fino, salto agulha? Perceba se você está confortável da forma como está agora. Que tal tirar os sapatos? Estique os pés, mexa os dedos, relaxe. Encoste a sola dos pés no chão. Sinta a textura e a temperatura do piso. Foi gostoso? Seria bom se fosse sempre assim? Seus pés ficaram contentes? E a sua roupa? Está confortável? Solte-se. Fique assim, e leia a primeira história:
Um homem foi a um alfaiate, para experimentar um terno. Parado diante do espelho, ele percebeu que o colete estava um pouco irregular na parte inferior.
- Ora – disse o alfaiate – Não se preocupe com isso. Basta você puxar a ponta mais curta para baixo com a mão esquerda, que ninguém jamais vai perceber nada.
Enquanto o cliente fazia exatamente isso, ele notou que a lapela do paletó estava com uma ponta enrolada em vez de estar rente.
- Isso? – Perguntou o alfaiate. – Isso não é nada. É só você virar a cabeça um pouquinho e segurar a lapela no lugar com o queixo.
O freguês obedeceu e, quando o fez, observou que a costura de entrepernas estava meio curta e que o zíper lhe parecia um pouco apertado demais.
- Ora, nem pense nisso. Puxe o zíper para baixo com a mão direita, e tudo vai ficar perfeito. – O freguês concordou e comprou o terno.
No dia seguinte, o homem estreou o terno com todas as alterações de queixo e mãos. Enquanto ia mancando pelo parque, com o queixo segurando a lapela no lugar, uma das mãos puxando o colete, e a outra mão agarrada ao zíper, dois velhos pararam de jogar damas para vê-lo passando com dificuldade.
- Meu Deus! – disse o primeiro velho. – Veja aquele pobre aleijado!
O segundo homem refletiu por um instante antes de sussurrar:
- É, ele é bem aleijado mesmo, mas sabe o que eu queria saber... onde será que ele comprou um terno tão elegante?
O que eu quero que você perceba é o seguinte: da mesma forma que você parou para sentir o quanto seus sapatos e suas roupas estavam confortáveis ou não, você pode se perguntar por que você estava usando algo que não era confortável, assim como o personagem da história. Raciocine sobre isso. Então, você pode usar essa imagem, essa situação, para perceber o quanto você está confortável com tudo na vida. E se perguntar em nome de quê você está passando por esse desconforto.
Essa paradinha que você deu para observar e sentir como é que seus dedos estavam dentro do sapato, esse tempinho, você pode passar a se dar em vários momentos, na sua rotina, para detectar o quanto você está confortável em relação a tudo.
É claro, falar em “estar confortável na sua vida" parece ser tão abrangente, que você pode pensar que isso vá ser muito complicado. Mas não. Eu peço, simplesmente, que você comece a se perguntar. Aos poucos, você vai adquirindo maior consciência do quanto você está confortável ou não em pequenas situações. E tenho certeza de que isso vai levá-la a perceber o quanto você está confortável dentro da sua própria vida.
A partir de agora, na medida em que você for detectando seus confortos ou desconfortos, você pode começar a pensar: como eu poderia melhorar isso? O que é que a minha alma quer de mim nesse momento? Como a minha alma ficaria feliz e confortável agora?
Não é pra chutar o pau da barraca! Vamos com calma, sentindo e tentando, devagar, melhorar essa situação. Ok?
O mais importante é você começar a se relacionar com a sua alma. Se você achar que não está tendo resposta, num primeiro momento, não desista, porque, aos poucos, ela vai surgir, e eu tenho certeza de que você vai gostar. Ela é sua melhor amiga.
Posso acreditar que você vai reviver essa experiência no seu dia-a-dia?
Se você achar interessante, pode anotar as impressões que terá durante essa próxima semana. Faça uma espécie de diário e anote em que situação se sentiu mais ou menos confortável, talvez o que poderia fazer para melhorar isso.
E se você puder comentar essas experiências nesse blog, com certeza, estará enriquecendo esse conteúdo e ajudando muitas outras mulheres!
3 comentários:
Nalú..eu seguí direitinho as recomendações do texto e percebí, logo no primeiro momento, que eu nunca estou confortável, chego a cometer o absurdo de ficar duas horas de salto alto na cozinha, porque cheguei tarde e não me dei nem o direito de ficar à vontade antes de começar a trabalhar e, isso é só um exemplo, porque sei que se pensar no dia todo, nao vou encontrar nenhuma situação onde estive à vontade. Isso se estende pra vida como um todo; vivemos tensos, angustiados, presos a estética e à aparencia que, cada dia mais, infelizmente, parece estar em primeiro lugar para as pessoas; é aí também que vemos como perdemos nossa excência!
Marisa:
Obrigada pelo comentário! Venho bem a calhar, porque você disse exatamente o que eu quero que as pessoas percebam: que esse "desconforto" pode ser no mundo objetivo (em relação às roupas, sapatos, etc.), mas também no mundo subjetivo (como me sinto em relação ao meu trabalho, ou à minha família, ou nas mais diversas situações que enfrento todos os dias). E você pegou exatamente qual é o "espírito" desse workshop: ler as histórias realmente sentindo o que elas estão querendo dizer, e trocar essas impressões com outras mulheres, através do blog! Se todas as mulheres que acompanharem esse trabalho opinarem, como você está fazendo, o trabalho crescerá e realmente atingirá seu objetivo!
Um beijão!
Obrigado por Blog intiresny
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