domingo, 8 de abril de 2018

Espalhemos as sementes de Lula





Lula, enfim, foi preso. A saga de desmonte da democracia que se iniciou quando da vitória de Dilma, em 2014, e que foi se desdobrando em tristes episódios de escancarado desrespeito à Constituição, só possíveis com a conivência de um judiciário totalmente comprometido com a direita e de uma multidão de brasileiros entorpecidos pelo ódio implantado pela grande mídia enfim, atingiu seu ápice. A prisão de Lula marca definitivamente a quebra do Estado de Direito no Brasil e seus desdobramentos me põem medo.  Entretanto, ela não se deu como, talvez, Moro desejasse e, creio, não surtirá todos os efeitos que Moro, presumivelmente, imaginou. Lula se entregou embalado pelo povo e, evidentemente, seu espírito não ficará enclausurado, mas se impregnará em todos os que enxergam que são os trabalhadores que movem o mundo.
Eu não sinto pena do Lula, porque Lula JAMAIS será digno de pena. Tenho certeza de que, esteja onde estiver, será o grande líder que sempre foi. Tenho certeza de que suas ideias reverberarão pelos quatro cantos do planeta. Tenho certeza de que se dará bem dormindo em qualquer cama, comendo qualquer tipo de comida, a céu aberto ou confinado. Tenho certeza de que conquistará os corações de todos os que tiverem contato com ele nesses estranhos dias. Lula terá direito a duas horas diárias de banho de sol e, nossa!, quanta fertilidade isso gerará! Mujica ficou sete anos em uma solitária e afirma que não enlouqueceu porque talvez já fosse louco. Sofreu, mas tornou-se o que é hoje. Lula é louco, porque só mesmo um louco consegue tanta força para lutar pelo que acredita. E Lula nos enlouquece porque nos contamina com esse desejo de justiça social. Lula receberá cartas, milhares de cartas, receberá visitas, refletirá, e nos terá aqui, espalhando consciência política.
Esse momento, de dor profunda, pede resistência. Mas não apenas resistência no sentido de cobrar da justiça o que é sua obrigação: fazer justiça. A resistência deve ir além. Não podemos desistir daquilo em que acreditamos. Se o Brasil está sitiado, o destemor é necessário. A cada oportunidade, a cada brecha, em todos os espaços em que possamos nos infiltrar, de todas as formas possíveis, temos que assumir a responsabilidade de espalhar a ideia de compaixão, a fé na possibilidade da construção de um mundo menos desigual, a consciência de que fora da política não há salvação e de que política se faz todos os dias, em todos os ambientes e situações. Temos que conscientizar os menos favorecidos de que sua situação não é natural e de que, se nos ajudarmos uns aos outros contra a tirania dos poderosos, havemos de obter avanços.
O recado que nos tem sido passado desde a eleição de Dilma, culminando no assassinato brutal de Marielle e na igualmente brutal prisão de Lula, é o de que temos que aceitar que o mundo será sempre comandado pelos mesmos. De que temos que nos sujeitar à escravidão para apenas sobreviver, porque sempre foi assim e assim sempre será. Mas os que querem perpetuar a escravidão sabem que são escravos de seus servos e é o medo que os torna tão cruéis. Ter que meter a mão na massa os assombra.
Tornemo-nos educadores, cada um de nós. Vamos espalhar as sementes que Lula plantou em nós, sem trégua.   


                                                           Ana Lucia Sorrentino

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