Acabamos de passar pela primeira semana do Governo Dilma. Nunca tivemos uma presidenta, isso é novidade pra todo mundo.
Seria bacana se vivêssemos num mundo em que a questão do gênero, assim como a da cor, da raça e da classe social, fosse irrelevante, e o que contasse fosse só a capacidade, mas as coisas não são assim. E também não é de se estranhar que não sejam, porque, afinal, e graças a Deus, homens e mulheres não são iguais mesmo.
Embora os atributos pessoais e intelectuais a tenham capacitado para estar onde está, ser mulher deverá fazer muita diferença, sim, na hora de governar. Assim espero. E gosto disso.Como sou mulher, estou perto dos cinquenta e vivo no Brasil, creio que tenha alguma ideia do que Dilma passou pra chegar onde está.
Embora saiba que muita gente pode negar isso, porque às vezes a vontade que se tem de viver num mundo ideal é tanta que as pessoas acabam fingindo viver nele mesmo, sei muito bem o preço que uma mulher paga quando tem ideias e vontade própria e quando realmente vive de acordo com elas, e não de acordo com o que tentam lhe impor.
Ainda vivemos numa sociedade em que mulheres exercem as mesmas funções dos homens, mas ganhando menos. Ainda se cobra da mãe, hoje, presença muito maior do que a do pai na criação dos filhos. Ainda se acredita que as tarefas e a administração doméstica sejam muito mais obrigação da mulher do que do homem, mesmo que ela passe o dia todo trabalhando fora, e que divida despesas com o parceiro.
Claro que há casos exemplares de gente que já conseguiu sair disso, mas são casos pontuais, um aqui outro ali. Falo pelo que vejo olhando à minha volta, e que salta aos olhos.
Ainda temos valores morais distintos para homens e mulheres. Quando se avalia o caráter de um homem, os critérios ainda são diferentes daqueles que se usa na avaliação do caráter de uma mulher. Ainda temos um nível de tolerância incrível em relação à invasão da intimidade e à crítica a escolhas absolutamente pessoais, como religião e preferência sexual. Ainda se julga alguém por seu estado civil. :( Ainda tanta coisa...
E é por isso que digo que não votei em Dilma, mas agora torço por ela.
Porque, sem dúvida, ela é uma mulher forte.
E me parece, pelo tanto que enfrentou e superou, principalmente durante a campanha, que está muito bem capacitada para essa dura empreitada de governar um país.
Hoje, eu gostaria muito de poder dizer à Dilma o que espero dela.
Claro que eu poderia aqui fazer uma lista do que considero prioridade para o nosso país, e isso não seria muito diferente de nada do que já tenha sido dito e repetido infinitas vezes por outras pessoas.
Mas eu não quero falar sobre isso.
Quero falar sobre o que espero dela, como uma mulher que hoje tem uma situação de privilegiada liderança.
Espero, sinceramente, que ela saiba tirar proveito de seus atributos femininos para governar com maestria. Que use sua natureza gregária sempre em nome de um bem maior. Que esteja atenta à sua intuição, porque estará em meio naturalmente hostil, apesar da aparente amabilidade momentânea de todos. Que saiba aproveitar da adaptabilidade feminina natural para estar confortável nas mais variadas situações e não ficar paralisada perante as frequentes mudanças de rumo que inevitavelmente serão necessárias em seu percurso. Que, como toda mulher saudável, seja determinada, persistente, forte e corajosa na busca de seus objetivos. E generosa, para que esses objetivos se baseiem nas necessidades do país, e não em suas necessidades particulares. Que saiba usar sua capacidade de se desdobrar em várias e enxergar o macro, e que consiga perceber as necessidades de seu povo com a sensibilidade que só de uma mulher podemos esperar.
Enfim, que governe o país com inteligência própria e que desaponte profundamente todos aqueles que ficaram apregoando aos quatro cantos que ela seria apenas um fantoche na mão de alguns.
Que desdiga solenemente os que disseram que, na verdade, quem iria governar caso ela fosse eleita seria fulano ou beltrano. Que use a seu favor o que tanto usaram contra ela: que surgiu do nada. Porque melhor surgir do nada do que ressurgir de anos e anos de falcatruas em bastidores.
Eu ficaria imensamente feliz se soubesse que ela tem total consciência de que, independentemente de tudo o que se disse durante a campanha, quem foi à urna e a elegeu estava votando nela, e não naqueles que a pretendem usar para agir sem aparecer sob a luz dos holofotes. Cansei de escutar que se Dilma fosse eleita quem mandaria no Brasil não seria ela.
Bem... sei a força que uma mulher tem. Sei que ela enfrentou o diabo pra chegar aí.
Não posso crer que depois de ter passado por tudo isso, vá entregar decisões importantes a outros. E também não posso crer que ela não saiba que, afinal, quem responderá pelos acertos ou erros será ela, pois foi a ela que o povo elegeu.
Dilma, não me decepcione. Quero sentir muito orgulho de você. Que me chamem de crédula. Como bom exemplar de mulher que sou, tenho prática em arrancar fé das minhas entranhas. E estou confiante. Quero que seu olhar feminino faça, realmente, toda diferença.
Analú
4 comentários:
Ana, como sempre brilhante nas suas colocações. Dê um jeito, faça chegar à ela este texto. Isso precisa ser publicado em algum jornal bem abrangente! É muito para um blog só.
Pelo grupo que ela carregou para ajudá-la a governar, acho difícil isso dar certo!!
A equipe seria muito importante para que houvesse um mínimo de esperança, porém a maioria é de corruptos e incompetentes já comprovados!
Boa sorte para suas esperanças!
Das minhas eu já abdiquei há muito tempo!!
Nada vejo que precise
retocar nessa postagem,
nem sequer a maquiagem
muito bem,falou e disse.
Dilma não foi eleita por ser mulher, e nem por seus méritos. Foi eleita por ser Lula.
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