É meia-noite
e os sinos não tocaram.
Eu não tive nenhum pressentimento
nem compartilhei com alguém
a transmissão de um pensamento.
Eu não temi,
não tremi,
não estremeci.
É meia-noite e é como se fossem duas da tarde.
Eu não apaguei as luzes,
não fechei os olhos,
não dancei uma valsa.
Não me abracei a ninguém.
É meia-noite
e os sons continuam diurnos,
indiscretos.
Ninguém sussurra ao meu ouvido,
ninguém me beija,
ninguém me encara,
ninguém me ama.
É meia-noite e ninguém chora,
ninguém geme,
ninguém cala.
É meia-noite e o lobisomem não veio.
Nem o vampiro.
É meia-noite
e nenhum suspiro forte
pode cortar o silêncio,
porque nem ao menos
há o silêncio próprio da hora.
É meia-noite e eu escrevo,
como em tantos dias, tantas manhãs
ou madrugadas.
Não há o clarão da lua,
não há uma silhueta de mulher nua,
não há nada.
É meia-noite
e eu não estou apaixonada.
Ana Lucia Sorrentino em Alento(2007) - coletânea de poesias, à venda através do e-mail analugare@yahoo.com.br
8 comentários:
Ana Lucia,
Muito bom esse poema. E o livro Alento, de quem é a autoria?
Abraços,
Pedro.
Olá, estou feliz em estar aqui e simplismente amei tudo que li, desde já estou acompanhando seu blog, e espero ter o prazer em te-la um di nos meus...tenha uam boa semana...
Na «calada» da noite eu não temipassar por aqui.
Reencontrei "estados" de alma no "sabor" dos poemas.
Obrigado!!!
Paulo
"É meia-noite e eu escrevo,
como em tantos dias, tantas manhãs
ou madrugadas."
Um poema muito bom, Ana Lucia.
Ótima semana.
Beijos
Oi, Ana!
Ainda não é meia-noite, e ói eu aqui, voltando das minhas férias...
Amei o poema! Sem paixão, nem meia-noite,... nem meio-dia!
Bjs e inté!
Oi, Maria Lúcia, o poema da 'Meia Noite' é belo, mas o final me surpreendeu! Esperava uma coisa e aconteceu outra. Gostei muito.
meu carinho
tais luso
Se com toda essa descrição do que (não) acontece à meia-noite, acho que sei o porquê: seu relógio está errado!! rs..rs..
Ou..estás no mundo do "dia em que a Terra parou", de Raul Seixas. Nada acontece, nem as horas passam. Ruim isso...rs..
querida amiga, que poema mais lindo, essa é a meia-noite do só,que ama sem uma contra-partida, mas o que vale mesmo é amar, de uma forma ou de outra sempre há uma compensação,você é mesmo um ser apaionado, bjs
obs: já passa da meia-noite, está chovendo e estou só, meu marido chega hoje, nesta madrugada reina o silêncio, nada de gritos e sussurros.
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