quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Abrindo Meu Diário VII - reflexões para Desromance

Hoje saí com uma amiga. Ontem tive um dia super introspectivo. Me recolhi, dormi fora de hora, curti ficar comigo mesma no quarto fechado, com meus pensamentos meio afetados pela TPM. Agora aceito isso muito melhor, acho que é pra fazer assim mesmo, se recolher. Aceitar essa vontade de ficar sozinha, quieta, comigo mesma. Hoje renasci. Já acordei com vontade de rua. De gente, de conversa.
Bem, o fato é que liguei pra essa minha amiga, e ela estava pra lá de sorumbática. Passara o domingo inteiro sozinha e isso a deixa perturbada. Até muitíssimo pouco tempo atrás, era certo que a família ficaria agregada ao seu redor durante todo o fim-de-semana. As filhas, os namorados das filhas, o pseudo-marido, que quase nunca vai pra casa... Todo mundo sugando-a de canudinho. De repente, as filhas cresceram, “desmamaram”, como não poderia deixar de ser, e cada uma vai vivendo sua vida pro seu lado, do seu próprio jeito. O marido se afundou em mais e mais compromissos, e quase não vai pra casa. E passou a ser normal, para as filhas, deixar a mãe por sua conta e risco. Está certo. Mais do que certo. É saudável. É pra isso que os filhos crescem. Pra descobrirem o mundo, as pessoas, a vida, enfim. E pra andarem com suas próprias pernas. E pra que nós, mães, possamos olhar novamente pra nós mesmas, reencontrar nossa alma e viver nossa vida.
E aí, o que é que acontece? Adivinha! O que era pra ser uma coisa muito legal, o que era pra ser festejado, vira uma síndrome! A síndrome do ninho vazio! Que inferno, não? A mulher vê a casa vazia e as tarefas feitas, e, em vez de se sentir tranquila, entra em depressão. Passou tantos anos cuidando dos outros, que esqueceu totalmente de si mesma. Agora quer se encontrar, mas não sabe onde, não sabe como. E vem a aflição. A casa está vazia e ela está vazia também. Já não sabe mais o que quer, já não sabe direito do que gosta, já não se reconhece mais. Na verdade, essa síndrome não é a síndrome do ninho vazio coisa nenhuma. É a síndrome da mulher vazia. Oca. Sem alma. A mulher que precisa ter companhia e estar atarefada o tempo todo para não perceber o quanto está vazia, pra não sentir o quanto isso dói. Todo mundo já não percebeu que quando as mulheres entram nessa fase, logo arrumam um cachorrinho pra distraí-las? Onde eu moro mesmo tem umas três ou quatro que são obrigadas a sair com seus cachorrinhos várias vezes por dia, pra que eles façam suas necessidades na calçada. (Que beleza, não?) Elas até poderiam ensiná-los a fazer o que têm que fazer na área de serviço, em cima de qualquer folha de jornal. Mas, e aí? Não vão ter a obrigação de levá-los para a rua várias vezes, e o dia vai ficar mais comprido... Essas mulheres são capazes de transformar seus pequeninos cachorros, às vezes doces e inocentes, em verdadeiros elefantes brancos. Mimam, exageram, estragam. E o cãozinho, que se fosse tratado com naturalidade seria uma maravilhosa fonte de carinho, passa a ser um verdadeiro estorvo, não só para suas mães, mas também para toda a vizinhança. Uma outra amiga minha nina o cão como se fosse um bebê recém-nascido com cólica. Se o deixa no chão, fica impossível conversar, porque o bicho late o tempo todo e fica ameaçando morder o infeliz interlocutor da sua dona. Trancá-lo em qualquer lugar é absolutamente impensável. Então ela o pega no colo, e a gente tem que ficar conversando meio mareada, porque aquele vai e vem não acaba nunca. Até que essa minha amiga se irrita e vai embora, quase sempre deixando a conversa pelo meio, como se a conversa não valesse absolutamente nada. E a amiga dela (eu!:o) fica se sentindo uma idiota por achar que vale a pena tentar conversar com uma pessoa assim!:(
Bem, mas eu estava falando sobre a minha outra amiga, a que saiu comigo... a gente foi ao Clube da Comédia Stand-up. Consegui tirá-la de casa, mesmo no meio de uma fossa, e fomos até lá, dar um pouco de risada e comer alguma bobagem.
Só que também me parece que algumas mulheres têm um pouco de dificuldade de relaxar e se divertir, simplesmente. A impressão que tive foi a de que ela ficou se sentindo meio mal o tempo todo, porque não está acostumada a tantos palavrões, e tantas expressões grosseiras... Tá bem, tá bem, eu também achei exagerado. Pra dizer a verdade, eu não sei porquê o humor está sempre tão associado a banheiros, privadas, fezes e outras porcarias. Mas, se estávamos lá, e o povo todo ria, e os comediantes eram realmente engraçados, por que não relaxar e gozar, como diria nossa respeitável ministra do turismo? Então, a minha amiga parece que ficou meio constrangida durante todo o show, sem falar que teve que atender o celular todas as vezes que ele tocou. E olha que não foram poucas!
Bem, viemos embora e ela, talvez percebendo que eu tinha vontade de conversar, sugeriu que fôssemos a algum café. Topei na hora, como sempre. Mas a ilusão durou muito pouco. No caminho, o celular dela começou a tocar sem parar. Era a filha que estava em casa pedindo que pegasse um filme na Blockbuster, a filha que ainda nem tinha chegado em casa perguntando o que tomar pra dor-de-barriga e a filha que eu nem sei onde estava discutindo com a mãe porque queria dormir na casa do namorado. Uma atrás da outra. E a minha amiga não deixou de atender esse celular uma vez sequer e acabou desistindo de ir ao café! E me despejou, frustrada, na porta de casa, para ir correndo atender sua prole.
Caraca! Quando eu a chamei ela estava totalmente arrasada porque a família se esquecera dela! Agora a família estala os dedos e ela vai correndo, como se o mundo fosse acabar se não fosse! E me deixa no vazio! Aquela conversa legal que íamos ter, saboreando um delicioso cafezinho, foi pras cucuias!
Bom...com certeza, pra ela, também seria uma conversa totalmente inútil, como as que tenho com a amiga que nina o cachorro...

(Ana Lucia Sorrentino em Desromance, a ser publicado nalgum dia, se Deus quiser...)

5 comentários:

Braulio Pereira disse...

adoro seus textos

amei

beijos doces!!

Mariano P. Sousa disse...

Ôi Ana!
Nossa ! E é assim mesmo...
Mas não são só as mulheres que passam por momentos difíceis de contorná-los.
Nós homem também muitas vezes temos que contornar cada situação!
É muito legal ler você Ana!
Beijão!

Vanessa disse...

Parece que as mulheres, mães e esposas são educadas para serem felizes enquanto mães e esposas, não como mulheres. Quando, de fato, elas somente são mulheres, não sabem o que fazer!!! Daí vem essa síndrome de "ninho vazio". Disse bem, não é ninho vazio, é mulher oca!! Oca das suas vontades próprias, não a dos outros!!!

Ana Lucia Sorrentino disse...

Braulio!:) Muito bom perceber que vc está começando a ficar fiel... Mas cuidado com beijos doces, que eu não tô querendo engordar! rsrs...

Mariano, é isso mesmo, todos temos problemas, e todos vivemos situações bizarras. Mas essa dedicação exagerada à família em detrimento de si mesma, que muitas vezes é uma atitude deliberada, pra que não sobre tempo de enxergar-se a si mesma, é uma coisa bem típica das mulheres. Parece-me que a natureza do homem já é de ser mais voltado pra si mesmo... não é assim?

Vanzinha! :) É isso mesmo... mulheres já crescem tendo a família como referência, e muitas vezes é jogo duro quando têm que se descobrir como indivíduos...

Obrigada pela presença, pessoal! :)

Beeeijos!!!

Mistérios, Magias ou Milagres. disse...

Amo o que você escreve. Sou adepta de que uma mulher muitas vezes precisa de um novo amor para curar a solidão e vazio da rotina diária. Nada que um novo Amor não cure, mesmo que ela esteja na terceira idade, rsrsrsr. É muito bom ler algo tão confortador e inteligente. Você é incrível como pessoa e escritora.
Mais uma vez parabéns e sucesso.
Beijos Heudes.