Ler, ler, ler Jean Paul Sartre e pensar, pensar, pensar... não, não apenas pensar: sentir, sentir, sentir. Mergulhar fundo em mim. É assim mesmo. Por mais estafada de mim que possa estar, por mais insatisfeita, por mais tudo, só eu posso me sentir, só eu me percebo, só a mim cabe me conhecer. E é de mim que sei, de mais ninguém. É comigo que durmo e que acordo, é comigo que passo o dia, é comigo que vivo, que penso, que sinto.
Coisa boa essa, meu Deus, de dizer coisas tão profundas, tão verdadeiras, tão inebriantes! Coisa linda essa de descrever com tanta precisão gestos tão corriqueiros, que poderiam não dizer nada, mas que dizem, dizem, dizem sem parar o que somos, o que fazemos, o que sentimos... Sartre, te amo, meu Deus!
Será que é isso o que almejo? Amor? Será que, no final das contas, só o que importa é isso? Quero ser amada. Quero ser amada. Quero ser amada.
Será que essa gana por querer escrever não é apenas um gesto de exibição? Quero que me conheçam, que me vejam, que me leiam, que me amem, amando o que escrevi.
Talvez me digam: mas você é amada, não há dúvida! Eu sei... Sei que sou. Sou amada por gente de verdade, que vive uma vida de verdade junto a mim. Mas, não sei porquê, só isso não me satisfaz. Quero mais, quero mais, quero mais...
Terminei de ler “A Idade da Razão” e meu peito parece inchado, parece ter mais ar do que pode agüentar. Será que era isso o que Sartre queria? É isso o que quero. Amargar essa frustração é algo que me mata. Tenho que escrever, quero viver, preciso agir! Sei que talvez essa plenitude venha apenas quando estiver madura o suficiente pra não ficar tão deslumbrada. Tudo, tudo na vida parece ser assim. Se não está na hora, não está na hora e fim! À vida, afinal!
Às vezes tenho arroubos de sentimentos exagerados e, em seguida, questiono tudo. Ser amada não faz uma mulher mais feliz, amar sim. O que senti ao ler Sartre, possivelmente ele não sentiu ao escrever. E quando escrevo, na verdade, nunca estou preocupada com quem vai ler. Poderia escrever e guardar os textos para sempre numa gaveta trancada, que o meu sentimento de alegria por ter escrito algo bom não mudaria em nada. Porque o grande prazer é na hora em que escrevo, enquanto sinto o deslizar da caneta no papel, ou curto o barulhinho característico do teclado. O grande prazer é conseguir ordenar os pensamentos e sentimentos, porque o texto é apenas um facilitador dessa auto-compreensão. O grande prazer é tentar entender esse mundo e eu mesma. Ou será um grande sofrimento?
(Fragmento de Desromance, a ser publicado nalgum dia, se Deus quiser);)
2 comentários:
Como sempre suas postagens são maravilhosas, realmente somos responsáveis por nós mesmos, pois passamos toda a nossa existência na companhia de nós mesmos e se não somos o nosso melhor amigo. Quem poderá ser? Quando estou brava comigo dirijo á mim como senhora e quando estou de bem comigo me chamo de minha querida, é uma forma de chamar atenção a mim mesma. Você sabe o quanto gosto de ler seus poster, beijos fica com Deus.
Arroubos de sentimentos exagerados? Imagina..rs..por várias vezes algumas palavras ou expressões foram repetidas, como numa confirmação ou autoafirmação de alguma coisa..rs..isso é culpa de Sartre..rs..
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