Uma caravana de cerca de 3 mil imigrantes, em sua maioria saídos de Honduras há cerca de um mês, tenta chegar aos EUA para pedir asilo. Segundo matéria do G1, dezenas deles disseram, em entrevista ao Associated Press, que deixaram o país por conta da violência e da extrema pobreza. Na passagem por Tijuana, cidade fronteiriça do México, a caravana enfrentou um protesto de centenas de moradores. Uma manifestante disse aos repórteres que o governo deles é que deveria tomar conta deles, enquanto manifestantes gritavam "Fora!" e "Não os queremos em Tijuana!".
Todos os dias Bauman me ajuda a pensar sobre o que acontece no mundo. No capítulo VII de O conceito de amor líquido em Bauman, de minha autoria, faço uma compilação de fácil leitura das análises de Bauman sobre a questão migratória. Transcrevo abaixo alguns trechos esclarecedores:
Bauman afirma que a
modernidade "produziu desde o início, e continua a produzir, enormes
quantidades de lixo humano". Ao produzir e reproduzir determinada ordem
social, a modernidade considera lixo tudo o que não serve a essa ordem. Por
outro lado, o progresso econômico também transforma em lixo todos os modos de
subsistência que não servem aos padrões de produtividade e rentabilidade em
constante elevação. À medida que o modo de vida moderno se espalha pelo
planeta, diminuem os "aterros sanitários" que poderiam recolher tal "lixo
humano", que passa a representar sério perigo de autocombustão e "explosão
iminente".[...]
[...] o mundo [...] tratou
de criar métodos cada vez mais rígidos para controlar os movimentos humanos: "Passaportes,
vistos de entrada e saída, alfândegas e controles de imigração foram invenções
originais da moderna arte de governar."
[...] Bauman lembra que a
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, foi objeto de crítica
de Hannah Arendt e de Giorgio Agamben por sua falta de clareza quanto aos
termos "homem" e "cidadão" e por vincular a cidadania ao
pertencimento a uma nação, fazendo com que os direitos do homem se tornassem
inaplicáveis a qualquer ser humano que não se encaixasse na definição de "cidadão",
por não pertencer a algum Estado soberano. Aos "refugiados"- como são
chamados a partir de meados do século XX "aqueles que não têm um lugar
próprio no mapa-múndi mental dos cidadãos dos Estados soberanos" – cabiam
múltiplas rejeições antes que o Estado aceitasse seu ingresso na família
nacional, não sem a exigência prévia de que "imitassem a nudez do
recém-nascido", ou seja: aniquilando seus valores anteriores. Bauman
esclarece que a soberania praticada pelos modernos Estados-nação está "inextricavelmente
limitada a um território". A
trindade "Estado – nação – território"
trata tudo o que não se componha desses três elementos como "anomalia"
e se reserva a arrogante posição de metrópole, transformando o resto do planeta
em periferia e sujeitando-a às suas regras. Aqueles a quem a trindade rejeita
são lançados à terra de ninguém, a uma vida "que não vale a pena ser
vivida".
[...] Eles são expulsos ou
afugentados de seus países e sua entrada em outros é recusada. Perdem seu lugar
na Terra. Enquanto a elite global flutua, poderosa, pela extraterritorialidade,
eles se tornaram "um alvo fixo em que se descarregar o excesso de
angústia..." Onde quer que estejam, são indesejados.
[...] Bauman conta que os
imigrantes cuja deportação é mais difícil são confinados em campos de
refugiados em locais remotos e isolados, o que impossibilita definitivamente
sua assimilação à vida econômica do país. Não pertencem ao país em que vivem,
não são sedentários nem nômades, são alvo de suspeitas e ressentimentos, não
podem voltar ao país de que saíram, enfim: são "impensáveis", "inimagináveis", "inefáveis".
[...] Bauman considera que
"até aqui as perspectivas são sombrias", mas afirma que nosso consolo
"é o fato de que a história ainda está conosco e pode ser construída".
Se você tem vontade de entender como chegamos onde estamos e se
interessou por Bauman, pode começar lendo O conceito de amor líquido em Bauman, de minha autoria. Tenho certeza de que isso facilitará seu mergulho nas obras do próprio autor. Para ler um
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