Dias atrás, ouvindo a explicação de um jornalista sobre a produção da energia nuclear, e os perigos que aí residem, percebi que somos exatamente como o átomo de urânio enriquecido, que, se bombardeado com nêutrons, libera uma quantidade absurda de energia, composta por substâncias inofensivas, mas também por outras extremamente perigosas.
Se pararmos pra pensar na infinita diversidade de seres humanos e práticas que existem no mundo, é quase inevitável chegarmos à conclusão de que somos, potencialmente, tudo.
Um tudo encapsulado numa cultura restritiva que teme se corromper caso manifestemos livremente nossas potencialidades. Alguns aspectos da nossa individualidade podem, sem dúvida, representar, para os amantes da ordem estabelecida, verdadeiros resíduos tóxicos que, provavelmente, como o plutônio-239, provocarão alguma espécie de lesão cancerígena em suas certezas.
Canso de ver gente adoecendo por negar os apelos da própria alma para se enquadrar em padrões aceitos pela sociedade. Estamos habituados a seguir as instruções de um manual que cataloga seres humanos em categorias e determina quais os comportamentos adequados a cada uma delas.
Assim, consideramos normal afirmações taxativas sobre como é a mulher, a mãe, o pai, o filho...
Como o ser humano é muuuito mais do que essas descrições simplificadas, sua vida acaba sendo um eterno adequar-se ao restrito quadrado em que lhe é permitido atuar. Mas... e a vontade de escapar? Assim, escapamos às escondidas, e amargamos culpas eternas.
Fórmula perfeita para a infelicidade.
Como o embrião do pintinho, que, dentro do ovo, se alimenta da clara, estamos dentro de um ovo cultural, nos alimentando do sistema. E também alimentando-o. E nos pegamos, às vezes, querendo romper essa casca que nos tolhe os movimentos, para, enfim, nascer.
É claro que, vivendo em sociedade, temos que respeitar limites e tentar promover a harmonia. Estatelar o ovo no chão pra romper sua casca prematuramente pode resultar numa gema estourada e uma boa sujeira pra se limpar.
Mas... como esses artistas que pintam pequenas obras de arte em ovos, e, para esvaziá-los, furam cuidadosamente sua casca com uma agulha, você pode, com os instrumentos que tem, perfurar essa rígida camada cultural que te prende, pra pintar cores em sua vida. Há de entrar um pouco de luz nesse casulo e é grande a possibilidade de você sentir o frescor de um ar menos viciado.
Aproveite essa oxigenação e se aventure a perguntar a você mesmo o que te serve, o que te faz feliz. Ouça a resposta, e siga seu caminho, com autonomia.
Se percebemos que diferenças são saudáveis, se assumimos nossas particularidades, se vamos pelo caminho da auto-aceitação, a aceitação alheia acaba acontecendo. Quem se ama é muito mais amado pelos outros.
Sempre haverá quem te acuse, quem te olhe de soslaio, sempre haverá alguém pra apontar o quanto você é diferente, e tentar te causar algum mal-estar por isso. E dai? Se você se aceita, isso não deve ter grande importância. Como você já deve ter ouvido mil vezes por aí, nem Jesus foi unanimidade.
Às vezes, nesse mundo complicado, cheio de regras e dedos acusadores, tentando trilhar nosso próprio caminho a passinhos miúdos, nos sentimos pequeninos como uma joaninha. Mas, se estivermos com as idéias arejadas, podemos, como ela, ser vermelhos com bolinhas pretas, e encantar. E mais: podemos voar. ;)
Analú
8 comentários:
Ana, o problema disso que voce abordou é que o grande dedo acusador está dentro de voce, é voce mesma. Isso não está fora, mas dentro. É voce!!!!!!!
Olá, Ana Lucia.
Parabéns pela enorme lucidez e a maneira sábia como expôs seu pensamento.
Irei recomendar este artigo do seu blog em minha página no Facebook.
Um abraço especial.
Mauricio A Costa
Autor de 'O MENTOR VIRTUAL'
Analú, esse post está suculento!
Há pensamentos que passam por nossas cabeças como um flash. Uma grande escritora consegue captura-lo, ordena-lo e dividi-lo com seus leitores. Obrigado por isso.
Muito bom o texto, como todos que vc escreve... fizestes uma analogia perfeita, parabéns!
Adorei! E sim, somos todos átomos de urânio cheios de energia - se bem que, de vez em quando, dá uma preguiiiiiiça... mas, quando menos se espera, chegamos com toda a força!!!!
Ana Lucia querida, vc, mestre, sempre nos dando aulas, desde Energia Nuclear até aulas de vida...
Parabéns menina... beijão
Meu aplauso.
Meu entusiasmado aplauso!
Acabo de mandar por e-mail uma resposta ao texto Perturbação. Que, liás, é genial também.
Flores!
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