domingo, 16 de maio de 2010

Poesia - Pública Vida Privada (Alento - 2007)

 
Tudo, tudo o que faço ecoa.
            Tudo repercute, tudo grita,
            tudo se espalha.
            Ensaio um psiu!, que de nada adianta.
            Meus segredos voam por aí,
            de boca em boca.
            Sou tão sozinha, e no entanto,
            tão devassada...
            Não dá. Não dá pra transgredir em nada.
            Mesmo que queira,
            mesmo que ninguém perceba,
            estou sendo sempre vigiada
            (quando não flagrada).
            Meus telefonemas são listados,
            meus e-mails são checados,
            minha gasolina computada,
            meu comportamento censurado.
            Os canhotos dos meus cheques são vistados,
            os extratos conferidos.
            E eu, com feridas no meu substrato,
            vou levando a vida convertida.
            Tentando, de certa forma,
ser até mesmo divertida.
E conseguindo, muitas vezes...
Meus reveses logo se agigantam.
Minha vida, de privada, não tem nada
e meu lado malandro
teve que ceder lugar
a um bom senso manco.
Mantenho o nível...
Mantenho o nível...
É o que querem de mim.
E ninguém se importa
se estou não a fim.

Ana Lucia Sorrentino em Alento(2007) - coletânea de poesias, à venda através do e-mail analugare@yahoo.com.br

2 comentários:

Vanessa disse...

Não adianta, a gente não consegue deixar as coisas escondidas mesmo, um dia tem alguém que acha. Sempre. Ou a gente resolve escancarar mesmo, já que se esconder não vai resolver muito. No fim das contas, todos nós temos segredos, cada um com a sua gravidade...

Unknown disse...

Oi, Aninha
Voltamos!
Tudo bem com vc?
Temos mesmo que deixar tudo às claras, senão nos pegam...rsrsrs
Beijos e tudo de bom!