Ela
nunca leu um livro, nem mesmo pela metade. Nunca leu Nietzsche, Schopenhauer, nem
Marx.
Todos
os dias faz uma passeata solitária entre o terminal e a casa da patroa.
Sob
um sol causticante, abre caminho entre olhares e desejos vãos de trabalhadores
cansados.
Nem
sabe o que é ateísmo. Leva Deus dentro da bolsa, num DVD evangélico.
Alisa
camisas e calças, arrasta móveis, respira desinfetantes e nunca deixa de
sorrir.
Depois
do banho, à noite, encontra o marido roncando, a cama já desmanchada do esgotamento
do dia.
Ela
nunca leu um livro, nem mesmo pela metade.
Mas,
se a convidarmos a palestrar como doutora em tocar o barco, discorrerá
lindamente sobre o poder da fé, que lhe permite operar milagres, sem nunca ter
capital.
E
falará com maestria, de corpo inteiro talvez, o que é, pra uma mulher de
verdade, ter
vontade de potência.
Analú
4 comentários:
Já respondi por e-mail, mas repito aqui, Ana Lúcia:
Hoje exclamo teu nome!
Belíssimo, esse teu texto!
Flores e estrelas...
Ana,
Um blog leva a outro, mas a sensibilidade da alma que escreve é quem indica a permanência do leitor. As tuas palavras seduziram-me!
Gostei de tudo o que li. “Carta ao poeta Germano Xavier” tocou-me profundamente e, sem cerimônia, vou puxar uma cadeira e ficar por aqui. Obrigada, por partilhar o teu saber e nos convidar a trocar ideias.
Ana,
Um blog leva a outro, mas a sensibilidade da alma que escreve é quem indica a permanência do leitor. As tuas palavras seduziram-me!
Gostei de tudo o que li. “Carta ao poeta Germano Xavier” tocou-me profundamente e, sem cerimônia, vou puxar uma cadeira e ficar por aqui. Obrigada, por partilhar o teu saber e nos convidar a trocar ideias.
Saudades de ler você. Bjs
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