segunda-feira, 2 de maio de 2011

A Repercussão do Casamento Real - O que foi isso???

Vez ou outra, por considerar assunto de vital importância, escrevo combatendo a negação da realidade. E vez ou outra me vem a percepção do quão essa tarefa é complicada, tal o movimento contrário do mundo em que vivemos.


No último mês perdi a conta de quantas vezes me deparei com essa questão, pelo exagero e histeria que se criou em torno do casamento real.


Em alguns momentos quase cheguei a acreditar que todos os outros casamentos do planeta são irreais. E que, talvez, o príncipe e a princesa sejam feitos de alguma matéria diferente da nossa, sabe-se lá qual.


Às vezes, mediante alguns incríveis avanços tecnológicos, tenho a sensação de já estar vivendo no futuro. E, às vezes, por conta dessas atuações da mídia e da massa, que se deixa levar, me percebo em plena idade da pedra.


A quem já possa estar me acusando de amarga, estraga-prazeres ou coisa que o valha, aviso: sou uma incorrigível romântica, e a fantasia saudável é presença constante na minha vida. Acho mesmo que a fantasia nos preserva a sanidade.


O que questiono é esse empenho maciço em se alimentar a ilusão.


Num mundo em que até recém-nascidos já sabem que príncipes viram sapos e Cinderelas viram belas abóboras, tenta-se resgatar esses personagens de contos-de-fadas e, pior, com a evidente mensagem de que alguns seres humanos valem mais do que outros.


Como é que pode um selinho mixuruca entre um príncipe e uma princesa levar a multidão ao delírio? Vale mais o selinho do casal real do que o selinho do exausto trabalhador comum?


Me peguei indignada, nos últimos dias, percebendo que apresentadoras de TV mais do que vividas, falavam nisso como se fossem debutantes deslumbradas. Parece que ninguém escapou: jornalistas conceituados, psicólogos renomados, estilistas... O que foi isso?


Falou-se de tudo: da perda de peso da princesa, da calvície do príncipe, das férias de dois anos que ele pediu (!!!)... Costureiras brasileiras deliraram sobre como seria o vestido da noiva. Réplicas do seu anel foram vendidas a um Real no centro da cidade... que cooisa...


Houve um momento em que pude visualizar o casal real flanando sobre o globo terrestre, totalmente imune a terremotos, tsunamis, crises políticas e econômicas, doenças, traições...


Há tempos que percebo que quanto mais encaramos a vida como ela é e a aceitamos, mais chance temos de nos sentirmos felizes. Há tempos que vejo que quanto mais esperamos que nossa realidade esteja de acordo com os modelos ideais que nos são impostos desde que nascemos, mais quebramos a cara. Não acredito que pra se viver o amor plenamente seja necessário estar dentro daquele modelito de buquê de flores em datas predeterminadas, sexo com dia marcado, fidelidade obrigatória, cama de casal. E muitas vezes escrevo sobre isso, numa tentativa de mostrar às pessoas que somos todos seres humanos, e que, dentro dessa condição, podemos, sim, ser felizes. Sem espalhafato, sem grandes rituais, sem tanta necessidade de luxo material...


Acredito que o amor seja muito, muito mais que isso e muito, muito mais simples que tudo isso. Quanto mais apegados aos pré-conceitos, mais decepcionados ficamos. Forjamos nossa própria infelicidade, desenhando uma vida ideal que não conseguimos reproduzir em nosso cotidiano. Focados no que idealizamos e não conseguimos realizar, perdemos a riqueza da vida que passa, nos acenando com coisas lindas.


E então, um casamento real instaura uma campanha acirrada a favor de todas as ilusões possíveis e imagináveis, que, obviamente, não se tornarão realidade nem mesmo para o casal em questão. E parece-me que a coisa vai além disso. Planta-se no povo um sentimento de subserviência e distanciamento dos governantes interessante aos próprios governantes e só.


Belo desserviço prestado à humanidade...


A quem talvez, deslumbrado com as maravilhas que o casal real viverá até o fim de seus dias, esteja olhando com certo pouco caso pra sua própria vida sem glamour e pra seu companheiro falível, se é que minhas palavras valem algo, eu gostaria de dizer: esqueça essa bobagerada toda, pare de esperar o príncipe ou a princesa encantados, e olhe pro seu amor com amor de verdade, enxergando nele um ser humano cheio de imperfeições, mas que pode estabelecer com você a relação mais bonita, que é a de amor e cumplicidade. O resto é balela.






Analú

Crédito da imagem:
Froggie Pumpkin by *Diablomako
Deviantart

3 comentários:

Paulo disse...

Tenho questionado muito isso tudo, esse exagero em torno de questões comuns a tanta gente, mas que recebem um "fermento" adicional da imprensa em geral. Passaram até a diferenciar as "celebridades" dos "ANÔNIMOS". Apesar do Aurélio, ainda acho que anônimo é quem não tem um nome. O meu é Paulo, muito prazer. Mas desculpem-me, não sou famoso.

Carlos, um jeito tabajara de ver a vida disse...

Ana, estou aqui, de novo, como assiduo que sou. Bacana, né??? A turma gosta disso, pao e circo. nada mais. A imprensa adora esses barracos da familia real, vende espaço e comercial.
Viver só de realidade, não dá certo. É um exagero, precisamos das fantasias para suportarmos a vida. É um mecanismo valido de defesa. mas eles exageram, concordo.

Brax!!!!!!! ( boa essa )

Salete Cardozo Cochinsky disse...

Boa noite Ana Lucia
Concordo contigo. Nessas duas últimas semanas que antecederam, no dia e no dia seguinte não dava para ligar a televisão.
Até revistas que não são de falar de ("celebridades" conceito rídiculo que a média criou)abordavam, ocupavam páginas com o assunto. E de fato são para as futilidades, o menos importante que chama a atenção.
Gente que que não se valoriza. precisa projetar-se em outros, para dar sentido a suas vidas. Lamentável.
Beijos
Salete